segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Há uma "Senhora de Lourdes", que é minha Mãe...


A minha Mãe, se não tivesse falecido, há dias, faria anos a 27 deste mês.
Descobri um texto que lhe escrevi, há 4 anos, mas nunca lhe dei. Mas que agora reproduzo.
Foi inspirado numa fotografia que lhe tirei, em Fátima, há 12 anos, no último passeio que ela e o meu Pai fizeram juntos.
Fica como homenagem (não incluo a fotografia porque não sei onde a tenho...).

"Estremoz, Novembro de 2005

HÁ UMA SENHORA DE LOURDES, QUE É MINHA MÃE...
Não é necessário o lugar comum de “Carne da minha carne; sangue do meu sangue”.
Ninguém precisa de me a invocar, com esses argumentos .

É a “mulher” do meu Pai.
Isso diz tudo, sobre alguém que foi a ESPOSA do Senhor Professor Abel, que suportou as suas utopias, devaneios, sonhos, esperanças, experiências onde (meu querido Pai...) só se enganou a si mesmo!
É a MÃE que me lia histórias para adormecer; é a Mãe que acompanhou as longas vigílias de estudo do meu PAI, quando ele, quase com 50 anos, decidiu acabar a sua Licenciatura; é a MÃE que multiplicava o jantar quando eu levava, para a mesa, amigos, da “Família espiritual”, mesmo quando nada havia para comer...

É a MÃE que foi madrinha do meu querido (e já falecido) primo Jaime, o primeiro “homem livre”, sem preconceitos, meias medidas ou interesses, que, sem ser o Pai, conheci: sim, Mãe, o Jaime ia, todos os Domingos, a nossa casa, comer a sobremesa e criar-me dúvidas e saudáveis incertezas sobre o que era viver e sobre o Mundo, nas conversas que, depois, alimentava com o Pai.

Depois, há tudo o resto, minha SENHORA DE LOURDES.

A tua paixão pelo Pai. Ainda hoje é um romance literário , que ele me contou, a mim e á minha Lena, no “ Restaurante Internacional”, em Évora, do falecido Senhor Lourenço, no dia 19 de Junho de 1995...; o esforço que o Pai fazia para que tu fosses a sua “princesa”, tudo te omitindo e a tudo te poupando...
Foste, até, trabalhar, para “ajudar ás despesas”...; e tinhas, já, 53 anos. O que ele sofreu ! Vivi e senti isso, porque te acompanhei nessa atitude .

Depois, Mãe, há tudo aquilo que vivi contigo, junto com aqueles que, hoje, partilham a minha vida.

Mas há mais MULHERES na minha vida.
A LEONOR, minha segunda Mãe, em tudo o que isso significa.
A minha afilhada e madrinha (e mana) NINI, com quem tanto brinquei, fiz “gilos” e outros incentivos aos trabalhos de casa; a mana que, em adulta, em Grândola, conheceu e tolerou os meus disparates e devaneios, e nunca me condenou.
Há a MÃE DOS MEUS FILHOS, a quem devo a graça da paternidade.
Ainda e sobretudo, a minha filhota RAQUEL, carne da minha carne e sangue deste nosso sangue, mistura beirã (de ti) e alentejana (do meu Pai)
, que soube redescobrir este seu Pai e que hoje me enche de um imenso orgulho.
Existem as minhas queridas sobrinhas TERESA E JOANA (filhas do Zé), de quem, após tanta ausência, ainda quero ser um Tio presente, a minha querida e filosófica sobrinha LARA (filha da irmã da Lena), tal como a minha queridíssima SARA, que, hoje, nos momentos difíceis, onde já nada me resta de auto-estima, me recorda que existe sempre o Noddy e o seu automóvel mágico, ou a espada do Zorro, para uma magnífica luta contra o “crime”...
Finalmente, minha amantíssima Esposa HELENA, que tudo me atura e é guardiã da minha (que será difícil...) anciania (que tantas dores lhe dará...).

Mas, para sempre, HÁ A SENHORA DE LOURDES, minha MÃE e ESPOSA do meu PAI, que, recordo nesta fotografia, no dia 25 de Setembro de 1997, no fim de semana de um aniversário do Vosso Casamento, que passámos em Fátima.

Um beijo do filho “pródigo”

ABEL
"
Agora, importa cuidar dos vivos.
É o único luto que honra aqueles que partem.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Novos discursos sobre a Economia e Sociedade (II)


A CHAMADA "ECONOMIA SOCIAL"...

Os novos discursos sobre a Economia e Sociedade passam, também, por uma reflexão sobre o modo de estar do chamado "Sector Solidário", ou da Economia Social.
O texto que apresento´é de minha autoria, dos meus tempos de docente do Instituto Superior de Serviço Social (Beja) e de dirigente regional (Évora) da Rede Europeia Anti-Pobreza.
Foi usado (nesta versão ou em adaptações) em comunicações em reuniões internacionais que fiz em Argel, Lille, Paris, Sardenha, Zamora, entre 2000 e 2004.
Continua actual. Daí o colocar à reflexão.
Porque o mundo, bem português, das ditas IPSS, Mutualidades, Movimento associativo em geral, Cooperativas e Misericórdias tem de ser avaliado e repensado.

"A reflexão sobre a “Nova Economia” incide, também, sobre a tão em moda Economia Social.
Importa, pois, reflectir sobre o que é o terceiro sector/economia social e o que ele significa, não só enquanto atitude perante o “lucro”, mas, também, enquanto forma própria de organizar os recursos humanos e financeiros, assim como do prestar serviço.
De facto, o conceito de “terceiro sector” é, neste momento, a chave da refundação política e técnica do “mundo” da intervenção social e, como tal, deve ser clarificado, para melhor entendimento da mesma .
Assim, é habitual usar-se o termo “terceiro sector” ou, para outros, “terceiro sistema”, ou mesmo "economia social", para referir o nível da organização social onde a mediação entre as pessoas e a criação de riqueza é feito pelos cidadãos organizados entre si, e não pelo “Estado” ou pelo “Mercado”.
Esse entendimento á consensual. Contudo, existem, claramente, 3 “famílias” constituídas em torno de 3 maneiras de entender quer o objectivo, quer o tipo de intervenção própria do “Terceiro Sector/Economia Social”:
 A francófona , que remonta ás práticas de solidariedade económica interclassista, de reacção ás transformações derivadas da industrialização do fim do sec. XIX e os perigos do capitalismo nascente, cristalizada no surgimento de mutualidades, confrarias, cooperativas, visando apresentar alternativas sobretudo ao impacto económico do sistema dominante
 A anglo-saxónica , radicada no voluntariado sócio-caritativo e filantrópico, voltada para a acção social clássica ou para o apoio aos “desfavorecidos”, de onde nasceram as associações humanitárias, os clubes filantrópicos, a solidariedade social interclassista
 A mediterrânica, de constituição mais recente, que se radica na constatação da existência de desvantagens sociais próprias dos sistemas, que só podem ser combatidas com actuações simultâneamente preventivas e reparadoras sobre tudo aquilo que impede a realização da cidadania social; o seu fruto são, entre nós, as Associações de desenvolvimento local, ou as Cooperativas Sociais italianas
Em qualquer destas perspectivas, ao falar de “terceiro sector” estamos a referir-nos a um conjunto de instituições e organizações que tentam satisfazer as necessidades dos cidadãos através da organização dos próprios, movidos por uma lógica que não está centrada nem no lucro nem na dependência dos poderes públicos, mas na auto-organização dos cidadãos, ou, se preferirmos, da chamada sociedade civil.
Eis, pois, o essencial da questão:
Falar-se-ia de “terceiro sector”, para o distinguir, em termos organizacionais, do primeiro (o do Estado, o “não lucrativo”, que chama a si um conjunto de actividades e serviços que, pela sua importância ou necessidade, não podem funcionar na lógica do lucro) e do segundo (o do Mercado, o do “lucrativo” que chama a si as actividades e serviços que se entende servirem melhor a sociedade se funcionarem na lógica da oferta e procura). O “terceiro sector” seria o do “sem fins lucrativos”, ou seja, aquele onde o motivo central da actuação é, por si mesmo, a satisfação de uma necessidade através da auto-organização dos próprios interessados ou da mobilização dos cidadãos, enquanto tal, com esse objectivo. Ou seja, o que distinguiria uma organização do terceiro sector seria o prestar serviços numa perspectiva não de “ganhar dinheiro” ou de “disponibilizar benefícios”, mas, sim, de satisfazer as necessidades. Daí que, dominantemente, o terceiro sector surja associado a actividades/necessidades que o Estado e o Mercado não contemplam , não acautelam ou não estão na sua natureza : a promoção da inclusão social, por exemplo.
Em Portugal, assim como noutros países (como a Itália ou a França), tem-se optado pelo uso da denominação “terceiro sector”.
Não havendo, ainda, largo consenso, quer académico quer “no terreno”, sobre o tema, parece, contudo, haver, já, um entendimento generalizado sobre as características de uma organização do terceiro sector:
• Criação associativa de raiz, visando suprir uma necessidade (nascem da sociedade civil e por sua iniciativa)
• Gestão democrática
Convergência tendencial utente/agente (ou seja, numa situação ideal, os beneficiários e utentes coincidem com os próprios associados)
• Reintegração social dos lucros (que é diferente de não ter lucro)
Nesta perspectiva, encontraríamos, no “terceiro” sector, vários domínios de actividade, tais como :
A “economia social”, ou seja, a organização para satisfazer necessidades em áreas deixadas a descoberto pelo Mercado ou o Estado ou, mesmo, criadas pelo seu deficiente funcionamento (ex: a acção social tradicional, os “serviços de proximidade”)
O “empreendorismo social”, ou seja, organizações que disponibilizam o mesmo tipo de serviços que o Mercado, mas com a exclusiva preocupação de satisfazer as necessidades (ex: as associações de micro-crédito, as cooperativas)
O “associativismo civilista”, ou seja, a organização dos cidadãos para auto-garantirem determinadas componentes da qualidade de vida (ex: as associações culturais, desportivas, ambientalistas)
Assim, evitam-se as infelizes confusões que a União das IPSS, a União das Mutualidades, a Cáritas Portuguesa, a União das Misericórdias, têm defendido, em nome do seu interesse corporativo.
De facto, em vez de dizerem que “substituem o Estado nos seus deveres”, deveriam dizer que são uma resposta alternativa e complementar ao Estado. Porque nascem do seio dos cidadãos excluídos, “dos últimos dos últimos”, que dizem, afinal, representar.
Mas isso era fugir à tão agradável subsidio-dependência
Será preciso, talvez, infelizmente, um "escandalo" económico", talvez, para este tipo de Instituições caírem em si. Para separar o “trigo” do “joio”.
Para bem da afirmação da Economia Social."

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Novos discursos sobre a Economia e Sociedade (I)




Na minha procura de novos discursos, centrados na solidariedade e na cidadania activa, encontrei, há tempos, a doutrina económica (e notícias da prática) da "Economia de comunhão".
Porque me parece algo exequível e revoluconário, no sentido radical (mas tranquilo) do termo, resolvo postar este texto, que me parece desafiador de reflexão.

QUAL A LÓGICA DA ECONOMIA DE COMUNHÃO (EdC)?
por Luigino Bruni( professor associado de Economia Política na Universidade de Milão-Brescia)
A economia está, hoje, diante de um dilema: ou os processos de globalização podem oferecer novas oportunidades a muitos excluídos do bem-estar; ou transformam o mundo num grande hipermercado em que a única forma de relacionamento humano é o económico, no qual tudo se transforma em mercadoria.
A EdC é uma das respostas que o Espírito está suscitando para superar esse desafio. No curso da história, os carismas foram respostas aos desafios colocados pelas grandes mudanças de épocas: lembremos as Abadias beneditinas ou os Montes da Piedade dos franciscanos na Idade Média. No debate actual – pró ou contra os mercados – a EdC segue a sua trajectória que coloca a vida e não as ideologias em primeiro plano, em diálogo as demais experiências existentes.
Quais são os pontos característicos desta experiência? Qual a sua identidade? Nesta explanação, detenho-me sobre este aspecto fundamental, para depois reflectir sobre o significado económico da “lógica das três partes”.
Amar: também na economia?
Se alguém me pedisse para expressar numa palavra o projeto da EdC, responderia: pôr a “cultura do dar e do amor” no centro da actividade económica e da empresa.
Quem conhece algo sobre a história da economia, intui logo que esta tese é revolucionária por si. Realmente, se existe um lado que a economia não entende é o amor, facilmente confundido com a filantropia e com o altruísmo, os quais pertencem a uma abordagem individualista. Por isso, podemos dizer que aquilo que os teóricos da ciência económica descartaram na EdC, tornou-se a pedra angular. Aprofundemos um pouco esta lógica.
A invenção da economia foi uma grande tentativa, talvez a mais ambiciosa da modernidade, de construir a possibilidade de vida em comum sem recorrer ao amor e às suas palavras típicas (sacrifício, dor, fragilidade). O mercado foi concebido como a possibilidade de encontrar o outro, obter dele as coisas de que precisamos, sem passar pelo sacrifício, pela dor, e pelo paradoxo do encontro com o outro. O interesse, de “vício” – como era entendido no passado – torna-se o novo mecanismo que nos permite ficarmos juntos, gozar os benefícios da comunidade, resumindo, sem arriscarmos nada do que realmente conta na vida.
Até a invenção da economia, falar de vida em comum e de comunidade, significava falar de sacrifício, de dor, e, portanto, de amor. Inclusive a esfera dos bens, ou a económica, era caracterizada pela experiência do sacrifício ou da dor. Sem o mercado, de fato, a passagem dos bens de uma pessoa para outra era necessariamente doloroso: a dor das guerras e dos assaltos, bem como a dor de me privar de uma coisa para dá-la a outro. Desta segunda forma de dor, ainda existem traços na nossa sociedade, sobretudo na doação e na arte.
A invenção da lógica de mercado (“dê-me aquilo de que preciso e lhe darei o que você quer”) é semelhante à possibilidade de me encontrar com os outros sem o amor, já que o bem realizado pela troca se torna totalmente “outro” quanto ao seu produtor, torna-se para usar uma feliz expressão de Marx, uma “mercadoria”. E das mercadorias podemos nos liberar, ou podemos adquiri-la, sem colocar em jogo as palavras “nobres” da vida em comum, e sem necessidade de gratuidade.
Portanto, historicamente a economia não reconhece o amar. E quando há algum ato de gratuidade na esfera económica, é comum ser considerado como algo extra-económico, algo que nos permitiríamos uma “tantum”, uma excepção a uma regra. Essa de base, por isto sob uma visão dualística da acção; na vida privada (por exemplo, família e amigos) há a necessidade (e como!) do amor, mas as organizações económicas podem tranquilamente deixar de fazê-lo; a lógica que move a mãe de família quando vai comprar batatas não pode ser a mesma de quando as serve à mesa aos seus familiares.
Diferentemente, a EdC propõe amar também na economia, e, por isso, reconhece que, ao mesmo tempo, está indo contracorrente e é muito difícil fazê-lo. Se observarmos a lógica do tríplice destino dos lucros, percebemos que é uma consequência levarmos a sério o amor também na esfera económica.
A lógica das “três partes”
Começamos com a parte que é reinvestida na empresa. Essa parte prova-nos que a EdC é uma proposta para a actividade económica na sua normalidade, pois ela não se contrapõe ao seu dever-ser, isto é, a actividade livre de pessoas que também podem se encontrar produzindo e comercializando.
Herdamos uma concepção de economia que sempre contrapôs o económico e o mercado à solidariedade, à reciprocidade não instrumental e ao amor. Chiara Lubich (Fundadora do Movimento dos Focolares, inspirador da EdC) , por sua vez, propõe a vida de comunhão para as empresas que se inserirem nos mercados. Trocar, produzir, trabalhar são actividades que se encontram na origem da nossa civilização. São coisas humanas e potencialmente humanizadoras, mesmo se hoje muitas vezes os mercados não o sejam. A EdC se refere a isto! Por isso é um projeto por si só ambicioso, porque não se contenta em fazer felizes as ilhas, a economia de nicho, mas aspira a uma transformação da economia, na sua normalidade, uma transformação para lembrá-la da sua vocação originária.
A parte destinada à formação cultural nos recorda que sem uma cultura nova não se faz uma economia nova. Em que sentido? A EdC vive num mercado que se direciona contrariamente à comunhão, o que leva a sacrifícios no plano dos resultados tradicionais (por exemplo, produtos e lucros). A cultura deve, portanto, fazer-nos “ver” o registro invisível do balanço e atribuir um valor intrínseco às nossas ações (por exemplo, de legalidade, de respeito e de amor para com todos) antes mesmo dos resultados materiais. É a isso que se chama cultura a qual, quando radicada em nós, se reforça com a experiência, nos permite avançar também nos momentos difíceis. E nos ensina a reconhecer a presença da Providência, que não faltará se a economia é vivida como procura do Reino dos Céus e da justiça.
Somente atribuindo um valor às ações que fazemos podemos ir adiante quando todos agem contrariamente. Por exemplo: se apenas para mim não fraudar é um valor em si, não fraudarei mesmo se eu estiver sozinho nesta postura. A tudo isto se chama valor, ética, cultura!
Finalmente, a parte destinada aos empobrecidos. Nesses últimos tempos é reforçado o fato de os empobrecidos serem o grande recurso e novidade da EdC. Eles são autores essenciais, numa relação de paridade. A presença deles no projeto permite fazer viver a experiência da liberdade dos bens também para aqueles que “têm a mais”,
os quais esses bens se tornam aqueles pães e aqueles peixes partilhados com amor, que saciam as multidões.
A experiência da pobreza que estamos vivendo na EdC nos mostra que uma pobreza vivida na comunhão com os outros pode se transformar na “irmã pobreza”, que “felizes dos pobres” é uma bem-aventurança dirigida, como dever-ser, a todos os homens, sendo a vida um caminho de liberação dos bens e da libertação total. A EdC, na sua relação com os pobres, que não são anônimos assistidos, mas irmãos “próximos”, parte da própria comunidade. Em Trento, na década de 40, quando nasceu o Movimento dos Focolares, as suas fundadoras não fizeram uma “mesa para os pobres”, pois os pobres eram convidados para a refeição. Assim, na EdC os pobres estão numa verdadeira paridade com todos. Deste modo, da EdC está surgindo uma nova cultura de pobreza, baseada na proximidade e no fato de “fazer-se um”, que nos faz todos pobres (o próprio empresário é o primeiro entre os pobres, porque ele também tem a pobreza da fragilidade e da incerteza do fracasso económico) e, nos faz a todos ricos, pela partilha que atrai o “cêntuplo”. Estou convicto de que a cultura da pobreza é uma das realidades mais inovadoras e mais proféticas da EdC. Os bens mais preciosos são os genuínos relacionamentos com os outros, e o pior mal não é a falta de bens materiais, mas a ausência de relações verdadeiras com os outros. Actualmente percebemos o quanto isso é verdadeiro, vendo pessoas “riquíssimas” que são muitos pobres (porque estão sós), ou pessoas pobres de bens materiais a quem, na realidade, nada falta.
A Economia de Comunhão é uma utopia? “Está em você e está em mim”, se, nos nossos diferentes campos de acção, coisas semelhantes acontecem ou não! Empenhemo-nos para que aconteçam.

Mais informações em http://focolares.org.pt/edc/sobre-a-economia-de-comunhao


sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A morte de um guarda-redes...



Como benfiquista, o suicídio de Enke sensibiliza-me.

Li algumas notícias e análises, em torno do facto em geral e deste suicídio em particular.

E existirão sempre perplexidades.

Um estudo clássico, da sociologia, feito, ainda no século XIX, pelo Pai da mesma, Durkheim, fala do "suicídio altruísta", ou seja, aquele que é cometido não por desespero "puro e duro", mas porque a pessoa que o comete o faz (ou pensa que faz)para o bem dos outros. O caso clássico eram uns pequenos animais (os lémures), que, quando a sua comunidade estava com demasiados habitantes em relação aos alimentos disponíveis, em grupos de várias centenas, se precipitavam de ravinas ou entravam rios dentro, para que, ao morrerem, pudessem tornar mais viável a vida dos que ficavam.

Enke era conhecido por ser um homem solidário, envolvido, activamente, em várias acções de apoio, mormente aos sem-abrigo, às crianças abandonadas. Tinha, mesmo, recentemente adoptado um bebé, hoje com 8 meses. Na sua estada em Portugal, por mais de uma vez, como qualquer anónimo, foi visto a distribuir refeições a sem-abrigo, ao lado de membros de uma Igreja Evangélica.

Logo, era alguém, aparentemente, digamos, socialmente realizado, e, também, profissionalmente.

Contudo, pôs fim à vida.

Escreveu-se que a família e amigos o viam deprimido (havia perdido uma filha), mas a intensidade da vida desportiva, o desejo de não "perder o lugar" na sua baliza, não lhe permitiam o "luxo" de "meter baixa" para se tratar.

Vejo em Enke esta eterna e irresolúvel questão, que marca este tempo civilizacional : a incompatibilidade entre o "ser solidário", nos tempos livres, e a crueldade do mercado, onde vendemos a nossa força de trabalho.

Os que idolatram, hoje, o falecido Enke, foram, talvez, os mesmos que o vaiaram, no Domingo, por ter sofrido 2 golos...

Julgo que Enke sentiu esse drama : dava-se á comunidade, aos desprotegidos, no seu tempo livre (em vez de fazer outras actividades lúdicas ou ser presença em festas sociais), mas a mínima falha profissional era-lhe "cobrada", com crueldade, sem ter em conta o ser humano solidário que ele era. Depois, havia a perda da filha e a possibilidade de a "substituir" por uma criança adoptada, mas que ele não conseguia acompanhar, para não "perder o lugar" na baliza do Hannover.

Julgo que, para alem do seu estado depressivo, Enke deixou de poder "compaginar" todo este quadro de generosidade/"cobrança" e sentiu que, mais tarde ou mais cedo, o "dique" rompia.

Resolveu antecipar a ruptura. Pelo menos, foi ele que decidiu o momento. Pois, em nome do seu "altruísmo", não se podia deixar publicamente degradar ou admitir que, afinal, ser solidário já não dá acesso directo ao "Céu" ou ao reconhecimento, na "Terra".

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Morrer longe de casa...


Mais mortes de trabalhadores deste Conceho, no estrangeiro.

De acordo com várias fontes, só no Concelho do Marco existirão cerca de 8 mil pessoas a trabalhar, legal ou ilegalmente, no estrangeiro.

Isto significa algo que foi escrito e dito (até por mim), mesmo fora do contexto eleitoral : o Tâmega está refém de um modelo de emprego, já esgotado, ligado às falidas têxteis, aos "malheiros", à construção, ou seja, mão-de-obra sem qualificações e indiferenciada.

O combate a esta situação implica, entre outras medidas, o fim da "selva" da Formação Profissional, onde se continuam a defender (e financiar) "formações" que nada têm a ver com os novos "clusters" locais (Termalismo, Turismo, Indústria Automóvel, Economia Social, entre outros). E um Poder Local que saiba afirmar essas opções, sentando os parceiros "à mesa".

Senão, teremos, quase semanalmente, estas notícias : em Espanha, França, Luxemburgo, Argélia, ou em outro local, um conterrâneo nosso morre longe dos seus, porque "ousou" procurar um modo de vida fora da sua terra.

Quiçá, se as forças vivas locais de consorciassem, de forma activa, seria possível que não tivessem saído da sua terra, para ganhar a vida.

Mas isso significava uma nova política de desenvolvimento local.

Manuel Moreira, Presidente de Câmara reeleito, pode, neste início de mandato, com o seu Presidente da Assembleia Municipal , António Coutinho (que deu bons exemplos com projectos tipo "Escola Feliz" e com a intervenção na questão da Linha do Douro), pode começar a estruturar, com as forças vivas locais, intervenções, no mínimo, paliativas destes dramas. Acredito que a Assembleia Municipal poderá protagonizar ou animar iniciativas ligadas a tal, por ser um problema estruturante.

É que, não tendo nascido no Marco, mas sentindo-me Marcoense, gosto de ver o nome da minha terra (de opção) , escrito nos jornais.

Mas, por favor, por bons motivos.


terça-feira, 10 de novembro de 2009

Carta aberta a um "professor de moral" de Estremoz(kruzeskanhoto.blogspot.com)

Cartaz do filme onde aparece o hipócrita "Professor de Moral do Liceu de Famalicão" (inexistente, na época), agora "reconduzido" em Estremoz,
sob o nome de Kruzes Kanhoto

Porque não perco tempo com falsos púdicos, que com "pruridos" de tempos antigos (bem, e é útil saber que isto acontece em Estremoz, onde "causas progressistas" como a monarquia e a posse de Olivença têm seguidores assumidos, mas com nomes) dão azo a pulhices, como se referirem a pessoas, insultando-as e, ainda, dizendo que as protegem com o anonimato, deixo o link de um blog onde, na capa hedionda do anonimato, criticam o meu texto "Prostituição política em Estremoz".
Convido a ler o texto e o meu comentário.
Está em kuzeskanhoto.blogspot.com (post "O ex-homem do bloco" e respectivo 5º comentário).
Não perco mais tempo com cobardias de anónimos ou defensores do chauvinismo.
Afinal, saí de Estremoz há 2 anos, mas continuo a incomodar a hipocrisia instalada. Chamando os "bois" pelos nomes.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

50 anos de Astérix e Obélix e a morte de Levi-Strauss


Li (ou vi, dada a idade), as primeiras "pranchas" (assim se chamavam as "tiras", em episódios, semanais ou mensais, publicadas em revistas ou jornais) desses 2 heróis e da sua "irredutível" Aldeia, talvez em 1962, julgo que no "Cavaleiro Andante", revista da época.

Depois, já mais velho, o meu Pai começou a comprar os álbuns (isto lá para 1967), então em língua francesa, um pouco para estimular a aprendizagem da mesma, junto dos filhos : "Asterix, le Gaulois", "Astérix et Cleopatre", "Asterix chez les bretons", "La serpe d'or", entre outros títulos, vertidos, depois, em português, muito me ajudaram a saber, hoje, ler e escrever, quase correctamente, em francês.

Devo isso a esses 2 heróis.

Acompanhei, já nos anos 70, na revista "Tintin", as aventuras dos mesmos, já, em português.

A vida de jovem e adulto ajudou-me, depois, a perceber, os tipos sociológicos que cada um dos personagens simbolizava e um discurso, dos autores (Gosciny e Uderzo), sobre a História, mostrando que, entre outras coisas, os tiranos sempre foram e serão ridículos e viverão, sempre, rodeados de aduladores , ainda mais caricatos do que eles. Sobretudo, havia uma "perigosa" mensagem : existem "Aldeias" irredutíveis, onde a mudança entra (com, por exemplo, a bela jovem que chega, de Lutécia - hoje Paris - e conquista muitos corações), mas onde tudo é integrado e aceite, desde que acabe, como cada álbum da série, com um grande banquete de javalis. Ou seja, existe mudança, mas a identidade tem de ser respeitada...

Associo isto á memória do Antropólogo Claude Levi-Strauss, falecido há dias, quase com 101 anos, um dos pais da antropologia ocidental.
Foi uma das minha referências académicas, na minha licenciatura.

Isto porque a Antropologia, tal como é vista nos Estados Unidos, tem a ver muito com "ossos", com a "antropologia forense" que vemos nas séries "CSI", "Investigação Criminal", etc, ou seja, com explicar relações humanas através de vestígios "orgânicos".

Com Strauss devolveu-se à Antropologia a sua raiz diferenciadora em relação ás restantes Ciências Sociais : a Antropologia estuda as relações sociais, mas a partir da "cultura material", ou seja, das suas expressões materializáveis : tradições, costumes, literatura, arte, mas, também, parentesco, família, religião, poder, sobretudo através da sua simbologia material.

Por isso, as histórias de Astérix e Obélix são um vestígio da nossa "cultura material" destes 50 anos : lá estamos todos representados, materialmente, em "bonecos", como "bretões", "godos" e até "lusitanos", com os nossos tiques próprios; também os agiotas judeus, com os vícios dos banqueiros actuais; ou os piratas fracassados, por causa da "pirataria organizada" que era o Império Romano, entre outros cromos.

Ao (re)ler os primeiros álbuns, já com 50 anos, consigo ver, hoje, que tenho a mesma idade que eles, como lá se espelhava o pós-guerra, a guerra-fria, o fim do mundo colonial, mas, sobretudo, os conflitos culturais da dita Europa ocidental.

Mais do que qual "Herói da Marvel" (Batman, Super-Homem), os álbuns dos "heróis" Asterix e Obélix são um instrumento para o estudo da Antropologia da Europa do pós-guerra.
No fundo, daquilo que somos hoje. E para mim, ajuda o entendimento da irredutível "Aldeia de Astérix" (ou será de Obélix ? Ou de Panoramix ?) que, ideologicamente, continuo a ter, dentro de mim.
Parabéns a essa dupla e á sua Aldeia.




Prostituição política em Estremoz


Vivi 3 anos em Estremoz e, confesso, não me dei bem.

Tive uma péssima experiência política, no BE, onde "paguei a factura" de ter roubado á CDU os votos que deram a vitória ao PS), e uma ainda pior experiência empresarial, fruto de agentes locais (públicos e privados) sem escrúpulos e maus pagadores.

Não posso dizer que tenha sido, lá, feliz. Mas fiquei com amigos. E, algumas pessoas à parte, é uma cidade lindíssima.

Por isso, frequento as sua páginas e blogs, na net.

Li, há pouco, um comunicado do PS de Estremoz.
Transcrevo, por ser chocante :
"1. No dia 03 de Agosto de 2009, a cidadã Sílvia Dias assinou uma declaração de aceitação de candidatura à Câmara Municipal de Estremoz, integrando as listas do Partido Socialista.
2. -lo de livre e espontânea vontade e sem nenhum tipo de pressão.
3. Depois, em nome do PS, participou na feitura do programa eleitoral, nas actividades de campanha e nos debates públicos patrocinados pela Rádio Despertar Voz de Estremoz.
4. No jantar de apresentação pública dos candidatos do PS a cidadã Sílvia Dias, levou a sua família mais íntima e conviveu com todos os presentes.
5. Os estremocenses sabem que a cidadã Sílvia Dias se envolveu neste processo em nome do PS. Foi também em nome do PS que 2867 estremocenses votaram nela e nos candidatos do PS nas últimas eleições autárquicas.
6. Depois das eleições, a cidadã Sílvia Dias esteve presente em diversas reuniões com o PS e numa delas, em S. Lourenço, afirmou o seu amor ao Partido Socialista (sou do PS desde pequenina), jurou fidelidade ao projecto, comoveu-se perante os outros candidatos e terminou afirmando a sua determinação em assumir o lugar de vereadora da oposição.
7. Passados dois dias, perante alguns boatos que a davam como “muleta” ao serviço do MiETZ, a cidadã Sílvia Dias pediu uma reunião com responsáveis do Partido Socialista para, na presença da sua família, reafirmar a sua fidelidade ao PS e confessar que “se mudasse depois não seria capaz de encarar as pessoas”.
8. Posteriormente, na passada 2ª feira, dia 2 de Novembro, a cidadã Sílvia Dias eleita nas listas do PS, (não se sabe a troco de quê) foi apresentada publicamente como vereadora a soldo do MiETZ.
9. Com o seu gesto a cidadã Sílvia Dias desprezou o voto das 2867 pessoas que a elegeram e “viciou” o resultado das eleições, transformando a vitória do MiETZ numa maioria absoluta artificial.
10. A falta de carácter revelada por Sílvia Dias só encontra paralelo com o convite eticamente reprovável que o Presidente da Câmara lhe dirigiu. Depois de ter afirmado no discurso de posse que “não entraria em jogos políticos” o Presidente da Câmara prova, ao dirigir um convite a uma funcionária contratada da autarquia (Sílvia Dias) que não é digno do crédito dos estremocenses.
11. Ficámos todos a saber que cidadã Sílvia Dias não se importou de “vender” a sua posição e que o Presidente da Câmara ainda não perdeu o hábito de não olhar a meios para atingir os fins.
12. As atitudes da Sílvia Dias e de Luís Mourinha são um erro grosseiro, um gravíssimo atentado à democracia e um perigoso precedente na actividade política da autarquia. O Presidente da Câmara acha que pode “comprar” o voto da cidadã Sílvia Dias e esta achou-se no direito de alienar os votos de quem nela confiou, mas a Honra e a Dignidade da Pessoa Humana ninguém pode comprar
".

Ora bem, o que é que se passou :

Um antigo Presidente, eleito pela CDU, em mandato anterior, agora apresenta-se como independente, escorraçado do Partido que o apoiou antes e desde sempre (PCP), ganha as eleições e "seduz", politicamente, após o acto eleitoral, uma Vereadora eleita pelo PS, para falsear os resultados eleitorais e ter uma maioria absoluta que as urnas não lhe deram.

Repare-se : não faz uma aliança institucional ! "Rouba" um Vereador a outrem, mediante um acordo pessoal.

Enfim, nada de estranhar, num antigo Presidente que ia a "Bares de alterne" e pedia facturas, em nome da Câmara, como sendo de "jantares", para ser reembolsado. Ou que endossava cheques, passados a uma empresa municipal, para pagamento de despesas pessoais em empresas do Distrito de Évora.

Nós, aqui, tínhamos Ferreira Torres, mas corremos com ele. Dissemos-lhe, não, de vez.

Em Estremoz, infelizmente, o "bandido" local voltou, agora já não pelo PCP, que não o quis (e muito bem), mas feito independente.

Algures nas estradas rurais de Estremoz, os proprietários e chulos dos "Bares de Alterne" rejubilam !

Já agora, a dita Vereadora até pode reivindicar um lugar num desses bares. Mostrou que se sabe "prostituir". E que até já tem um "chulo" : o Presidente Mourinha...