quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Porque somos presença necessária, participação indispensável

Encontrei este magnífico poema de Sofia Mello Breyner Andersen, que me confortou hoje e que aconselho a todos os que, num momento, sentem vontade de desistir de resistir :

Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude

Para comprar o que não tem perdão.

Porque os outros têm medo mas tu não.



Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.

Porque os outros se calam mas tu não.



Porque os outros se compram e se vendem

E os seus gestos dão sempre dividendo.

Porque os outros são hábeis mas tu não.



Porque os outros vão à sombra dos abrigos

E tu vais de mãos dadas com os perigos.

Porque os outros calculam mas tu não.


Vou continuar viver assim, prometo !

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Crónica universal : TINTIN VOLTOU




Li, em francês, as aventuras de Tintim, em álbuns que algum dos meus irmãos terá a seu cargo, comprados pelo meu Pai, naquele esforço humanístico, continuado com o "Axterix", de aprendermos francês.
Comprei, numa das minhas idas a Bruxelas, o famoso primeiro álbum, até em versão portuguesa, "TinTim no país dos sovietes". Tremendamente reaccionário, claro.
Já conhecia, da infância, a "Ilha Negra", "Tintin no Tibete", "O Segredo da Licorne", "Tintin no Congo", "TinTIn na América"etc, foram obras da minha infância.
Daí que, na vida actual, encontre muitos "Dupont e Dupont", muitas Castafiore, muitos magníficos Capitão Haddock. E outros, que cada aventura revelava sempre com a assinatura de Hergé (ou melhor, RG).
TinTim voltou, com Spielberg, em 3D.
Vi os velhos filmes dos anos 60, no Cinema, ou a velha série que o Canal 2 foi passando, recentemente, a preto e branco. Tal como fez com o mais difícil Corto Maltese.
Ver (E VOU VER) TinTim de novo, no Cinema e em 3 D significa que, no mundo, ainda há lugar para um jovem repórter que acredita que o Mundo se muda; acolitado por tudo o que é mais desaconselhável, ou seja, pelo ébrio Capitão Haddock, pelos detectives falhados Dupond e Dupond, pelo cientista louco louco Professor Tornesol, pela balsaquiana diva e "sex symbol" frustrada, Castafiore.
É que, afnal, é com todos esses "vencidos da vida", que o novo Mundo surge. Desde que haja um TinTim que os anime e congregue.
Felizmente, começou a chover aqui onde vivo. E, por isso, vesti a minha gabardina tipo TinTim,; coloquei a minha boina, velha de 27 anos, como ele usava nos primeiros álbuns. Calças de golfe é que não uso e também não me faço acompanhar por canídeos. E para o penteado, já não há cabelo...; a minha luta é como a do TinTim, com os deserdados da vida a meu lado.
Ainda há Heróis, não violentos, que nos fazem acreditar na bondade do Mundo, construído com estes.
Eu preciso disso, hoje.
Por isso, logo que possa lá irei ver o TinTim. No Cinema e em 3D!

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Crónica de Avis (VI) : Quando temos a morte na Alma


Ontem, "fui ao tapete".
Curiosamente, não porque bebi demasiado. Quem me dera !
Senti, sim, o poder do "mando" de quem diz que não e se refugia em argumentos vazios.

Daqueles que se esquecem de quem, com eles negociou algo.
De coisas que, em Janeiro de 2012, finais do mês, lhes servirá e permitirá um ganho "limpo" (ou seja, uma imputação/ um financiamento) de mais de 22 mil euros de salários, e agora dizem que que por as mesmas razões financeiras, não vão buscar financiamentos iguais, para os anos seguintes. Coisas de "amanuenses" a quem deram poder, que o encaram como nos "tempos sociais" do Estado Novo.

É triste : estou a falar de uma poderossíma IPSS de âmbito Diocesano. De raiz cristã.
Aqui entram outras histórias muito antigas como :
- De quem ia a colóquios, congressos e seminários , esperando saber como obter financiamento para um simples fogão, mas que agora já vê um pouco mais alem;
- De quem devia ter orgulho de em 2010/2011, ter dado formação a mais e 350 pessoas ( algumas de IPSS); que hoje se esqueceu disso e que diz que, por razoes financeiras, não o torna a fazer, mas nunca, de facto, teve orgulho no fazer DISSO.
- Tenho de esclarecer : estamos perante uma Entidade que garantiu mais de 11 115 horas de formação, perante públicos altamente desfavorecidos e com sucesso, por exemplo, num Concelho, como Avis, onde algumas coisas tinham de acontecer (e, por via da formação, aí vem um Banco de Voluntariado e uma Universidade Sénior).
Estamos perante uma entidade que, actuou no Alentejo ( Distritos de Évora e Portalegre), em sítios onde NINGUÉM ia fazer formação para a cidadania e vida comunitária, ou seja, os meios mais recônditos (Ciborro, Boa-Fé, Giesteira, Azaruja, Avis, Ervedal, Fronteira).

Que aceitou o "namoro" de uma grande entidade formadora que depois, "roeu a corda".

Mas sobreviveu. Aí teve coragem.

Hoje faltou-lhe isso, mesmo com "cadastro limpo"
E por isso , dizem que não se candidatam a mais a co-financiamentos para formação. Ou seja, a intervenção capacitadora para uma presença cidadã ou para uma acção social com mais qualidade, EMBORA COM FINANCIAMENTOS DISPONÍVEIS, não vai acontecer porque o "amanuense" que tem o "mando" disse que não quer. Isso mesmo, não se candidatam a mais. Podendo fazê-lo e, assim, servir as populações, mormente os últimos dos últimos, aqueles que ninguém "forma". Passos Coelho, afinal, tem seguidores, na saloia sanha contra a despesa...
Mas afinal, tudo isso pode morrer. Por decisão que quem faz contas ao "Clips", ao "papo seco", ao "cu" limpo ao idoso, mas não percebe que existe algo mais : fazer das gentes pessoas.

Fica a "caridadezinha". Consentânea com o Governo "pacóvio" que temos.

Hoje, eu pago o preço de ter sido protagonista da aventura onde quis dizer o contrário. E parecia que estavam a gostar. Até que veio o MEDO !

A dita Instituição acha, como disse, que não quer continuar. Fica na mesma, não arrisca. Logo, não precisa de mim.

Deixa, "orfãos" formandos em Ciborro, Boa-Fé, Giesteira, Azaruja, Fronteira, Avis, Ervedal, que, de tão habituados a ter as nossas sessões quase quotidianas, vão estranhar ela já não acontecer.
Deixa a falar sozinhos os promotores da Universidade Senior de Avis ou do seu Banco de Voluntariado.

Mas mostra estar á altura de quem governa o País: TEM MEDO DE ACREDITAR QUE HÁ MAIS VIDA, PARA ALEM DO ORÇAMENTO:

Hoje, essa Instituição (ou o "amanuense" feito decisor), não quer mais.
Percebo. Ele não percebe de tal.que eu percebo o seu MEDO.

Nem o PS conseguiu criar um sistema credível de financiamento para a ECONOMIA SOCIAL, por oposição dos actuais governantes. Não seria eu a confessos "amanuenses"
Resta saber o que sobra do Estado Social, perante acto destes, Pior, o que restará de um discurso dominante "caritativo" sobre o mesmo. Que, neste exemplo, saiu vitorioso.

Como aquele que eu hoje vivi, na minha pele: "Foste bom, vai-te embora e cura-te" (mas isto disse Stº Agostinho há quase mil anos).

Fico por aqui, pois a dor é muita. Estou farto de ir embora e "curar-me".

Aliás, sinto que estou a perder a última grande aposta da minha vida. Por culpa de "gente com medo", não com "responsabilidade".
Por isso, fiz a escolha definitiva de, enquanto tiver alma e vontade de lutar e enquanto sentir que aquela população me estima, continuarei o trabalho social em Avis. Mesmo que só como voluntário.
Nenhum iluminado "amanuense" feito "mandador" mata este trabalho.







sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Crónica, de várias áreas geográficas, sobre a centenária República



A minha alma é demasiado parva.
Ainda me admiro com muitas coisas.
Ouvi, a 20 de Setembro, num sítio sério (um Tribunal), um autarca (a letra pequena não é erro, é opinião) Presidente de Câmara, que está no seu terceiro mandato (após um onde não foi eleito), dizer, nesse sítio respeitável, onde a Lei Fundamental e as dela emanadas valem, que, de facto, existem duas situações distintas, antes e após eleições autárquicas : até ao anúncio dos resultados, os candidatos "foram lá" por Partidos, Coligações ou Listas de Independentes. Depois, passam a ser eleitos do Município, logo, podem, esquecer os Programas pelos quais se candidataram e foram votados, e qual Estado Novo revisitado, mandar para "as urtigas" o Programa que subscreveram. E, por si mesmos, "casar" com outro Programa, "á beira do altar" !
Fiquei, nesse dia 20 de Setembro, admirado. Atónito. Estava a ouvir um Presidente de Câmara, no seu 3º mandato.
Mas logo perdi a dúvida.
Alberto João Jardim (eleito há 36 anos, sem interupções) declara, em 28 de Setembro, que "O seu Partido é a Madeira e o PSD é um seu instrumento." Repito, um seu instrumento ! Não há Programas, projectos políticos, mas, sim, um poder pessoal. Se o intrumento não fosse o PSD, seria outro ! Há, sim, um projecto de poder pessoal que, por razões "instrumentais", precisa de um Partido, o PSD.
Não gosto de Alberto João, mas ele, pelo menos, é sincero.
O Autarca, que, em 20 de Setembro, disse, perante um Tribunal da nossa República, a enormidade que disse, se o foi, só demonstrou o mesmo, numa versão menos corajosa : estar num registo constitucional que ainda não existe.
Não tem a coragem do madeirense : não diz que sempre viu na lei eleitoral um "instrumento".
Mas, tal como o madeirense, ganha eleições e tem os eleitores que merece e que o merecem.
Manuel de Arriaga, o Açoriano que presdiu ao primeiro governo republicano, bem disse, quando se desiludiu com o novo regime: "Vamos ter uma República sem republicanos, mas com beatos, sacristãos, bons chefes de família bem pecadores, habituais dos lupanares, das sociedades secretas, das mais soturnas sacristias, mas de uma seriedade impoluta. Logo que, quando nasce o Sol, vão dizer que são eles a República na sua pureza!".
100 anos depois, apesar disto tudo, sou Republicano, Socialista e amante (mas só dela, como ideia) da Cidadania.
E, infelizmente, estou a pagar por isso, á mão dos estúlticos que Arriaga enumerou...
E com muita honra.
Porque vivi na "terra" de Manuel de Arriaga, durante váios anos, transcrevo um exemplo da sua desilusão, relatado pelo escritor Augusto de Castro :
Augusto de Castro relata uma conversa com o ex-presidente Manuel de Arriaga pouco antes de este morrer, em 1917: "O velho, de admirável cabeleira de tribuno, de porte aristocrático e olhar romântico, que fora outrora um dos mais lindos rapazes do seu tempo, transformara-se em meia dúzia de meses, num velhinho curvado e triste (...) Arriaga contou-me os únicos prazeres do seu exílio - as flores, as suas telas, os seus poetas (...) Naquela tarde, sentado nessa saletazita que um raio de sol aquecia, contei ao pobre velho as minhas fáceis previsões. A política não fora feita para os idealistas e para os poetas, como ele - acrescentei. Arriaga escutou-me em silêncio, forçando um sorriso de comprazimento. Uma névoa de lágrimas velou-lhe o olhar. E como falando para si desenhando com a bengala no tapete pequenos traços trémulos, disse-me, com uma ironia em que procurou pôr altivez, mas em que apenas havia o fel de uma mágoa intraduzível: "Sou um criminoso político, meu amigo..." Quis consolá-lo e, para o fazer, lembrei-me de lisonjear o sentimento de popularidade e de justiça, que eu sabia ser a nota mais viva da sua velha alma de tribuno. "O povo que o estimou, continua, a despeito de tudo a amá-lo. Esteja certo disso. Ainda há pouco num teatro, o público, ao vê-lo caricaturado em cena, aliás sem o menor intuito desprimoroso, se levantou, numa manifestação de protesto e simpatia ao seu nome." E Augusto de Castro termina contando que, à saída de casa do primeiro Presidente da primeira República portuguesa, depois de comprar o jornal e ler que alguém se referia a Arriaga como "renegado e traidor", pensou: "Nunca, como nessa tarde, a política me pareceu uma tão cruel e sinistra coisa" (citado por João Medina, "História Contemporânea de Portugal", p. 257 e 258).

É com este tipo de Homem que a Rpública tem de ser feita. Não com os outros exemplos de pessoas que dei...

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Requiem pelo "Magalhães" e outras notas






Um Governo que, no ridículo das suas posições, faz apetecer gritar "Volta, Santana Lopes, eras um Santo !", voltou a tomar uma das sua "estruturantes medidas", afectando, claro, os mais desprovidos do acesso a determinados bens, hoje essenciais á inclusão social.
Falo do computador "Magalhães".
Para começar, vai ser extinta a Fundação Magalhães, precisamente vocacionada para a universalização do acesso ás TIC. O programa "@escolas e @escolinhas vais ser reavaliado, tal como está a acontecer ao "Novas oportunidades".
A sanha de destruir tudo o que ficou dos governos anteriores é indignante.
Um emigrante, desconhecedor da vida real em Portugal, muito qualificado, o Ministro da Economia, na 2ª feira, na RTP, anunciava uma medida verdadeiramente "estruturante" de combate ao desemprego : colocar os desempregados de longa duração, em formação, nas empresas, em troca de um IAS por mês, durante 9 meses (ou seja, menos de 500 € por mês); o emigrante Ministro deve pensar que ainda está nos "States" ou Canadá, onde há alguma seriedade nestas medidas, por parte dos empresários: então se as empresas NEM DÃO ACESSO, AOS SEUS TRABALHADORES, ás horas que a actual Lei fixa como obrigatórias, para sua formação, vão fazê-lo com outros? Só quem não conhece Portugal e o nosso sentido empresarial "manhoso", não vê que isso vai significar 9 meses de mão-de-obra barata, com "zero horas" reais de formação ou seja, o aumento da vergonha da formação fictícia e o continuar do descrédito da formação.

Mas volto ao "Magalhães".
Sempre foi odiado, talvez por ser interclassista. Foi ridicularizado. Talvez porque fazia chegar, a todos, aquilo que, em muitas escolas, fazia a diferença : ter um computador; e isso devia, talvez, numa visão muito liberal, ser exclusivo só de quem podia comprar. Afinal, é um critério de selecção dentro da sagrada competitividade : ter dinheiro para, ter acesso fácil a, etc...

Retenho, do "Magalhães", 3 imagens que demonstram o seu valor social :
- em 2009, primeiro ano do "Magalhães", estava eu, num banco de uma Praça, em Portimão, a escrever no meu Magalhães; passou uma criança, com a Mãe, e diz, para esta : "Mãe, aquele senhor tem um computador igual ao meu! Mas ele também é para velhos ?"; sem comentários...
- numa rua de Avis, durante o Verão deste ano, uma criança, talvez de 8 anos, acompanha os Pais, que se ocupam da limpeza urbana; a escola fechou, o ATL também, e ele lá anda com os pais; mas de "Magalhães" a tiracolo, parando, de vez em quando, em Cafés onde, simpáticamente, o deixam carregar um pouco a bateria ou permanecer;
- neste ano de 2011, há dias, numa acção de formação de informática básica, para pessoas iletradas informáticas e com problemas de acesso, por tal, ao mercado de emprego, realizada no Alentejo, em Avis, para alem dos computadores existentes, na Sala, demos possibilidade aos formandos trazerem, se tivessem, computadores ; formandos com mais de 40 anos, seguramente, apareceram com os "Magalhães"; disseram que os tinham pedido emprestados aos filhos ou netos. Ou seja, naquelas casas havia um computador, o "amaldiçoado" Magalhães. Mas se o Magalhães não existisse, não tivesse sido disponibilizado como foi, não haveria nenhum...

Exacto. De facto, o "Magalhães" não serviu para nada !!!!

Em definitivo, este País deixa, a "Passos" largos, de ter lugar para políticas sociais. Para os filhos das crises, restará o assistencialismo; e aí não existe espaço para coisas "igualitárias", tipo Magalhães!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Dejá vu







Há pouco tempo, vi, na TV, uma série explendida, chamada "Os Pilares da Terra"; li, depois, o livro que, como quase sempre, acaba por ser mais rico que a sua versão em imagem.


Recordei-me, há dias, da parte da obra onde se descreve a condenação de um suposto "bruxo", em Tribunal, presidido por o representante máximo da Igreja naquele território.


O Senhor daquelas terras, também ele clérigo, era o denunciante dos supostos actos de bruxaria do acusado. Apresentou várias testemunhas, que confirmaram tudo o que o Senhor dizia.


Por sinal, todas as testemunhas eram servos desse Senhor, explorando, em regime feudal, as terras.


Num acesso de fúria, a mulher do condenado dirige-se a vários deles, acusando-os de estarem a mentir, embora tivessem, perante Deus, jurado dizer a verdade. Eles limitaram-se a replicar-lhe uma coisa do género "O que querias que fizéssemos ? Que ficassemos sem as nossas terras ?".


Antes que me esqueça : isto passou-se no século XII.














segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O "meu" Partido Socialista (1)





Confesso.

Estive, no Congresso de Espinho, em 2009.

No Congresso de Matosinhos, em 2011.

No Congresso de Braga, neste fim de semana.

Estive, sempre, como militante, e, por razões da minha (de)formação académica, pude ver o Partido em movimento.

Aprendi muito.

E, conscientizei (como dizia Paulo Freire), muito.


Aprendi que estou no Partido certo que corresponde aquilo que eu defini como a Esquerda Possível. Precisamente, aquela que pode propor alternativas VIÁVEIS ao que a "esquerda museológica" ou a "esquerda caviar" propõem (e, reparem, eu militei nas duas, sei do que falo).

Descobri, em Braga, que o "meu PS" é o daqueles que percebem e se revêem nesta minha "esquerda possível" e que encontrei, lá, sem os procurar : o Dionísio Mendes, Presidente da Câmara de Coruche, meu colega de liceu, que saiu do PCP e abraçou o PS como esquerda possível; o António Marcelino, velho Amigo, de Arruda dos Vinhos, que me viu ser técnico da Câmara de Arruda e, depois, Autarca, com Pelouros, da CDU, num Município onde ele estava, na Assembleia Municipal, pelo PS; o Casimiro Ramos, também, nesse tempo, de 1993/1996, opositor político, mas, como o Marcelino, colaborador nos Grupos Municipais que fizeram o Regulamento de Apoio ao Associativismo, as Jornadas de Desenvolvimento do Concelho, o Grupo de trabalho dos Fundos Comunitários. Finalmente, o meu "inimigo íntimo", o então Presidente da CM de Arruda dos Vinhos, Mário Henrique Carvalho, (pelo PS) ,que, nesse tempo entre 1993/1997, me "aturou como Vereador da Oposição CDU, perante a sua maioria PS. Recordo, findo o meu mandato, que o Mário foi ao meu segundo casamento, em Beja, em 1997; ser adversário não é ser inimigo.

O Mário Henrique Carvalho é alguém, porque o ataquei, combati, porque ele me atacou e combateu, com uma imensa lealdade, perante quem, fico, como aconteceu em Braga, sem palavras. É foi um exemplo de Autarca e, ainda é, de Cidadão.Homem simples (embora, como estudante-trabalhador, e já em idade madura, se tenha licenciado em auditoria financeira), nunca o vi querer ser tratado por Doutor. Mas de um imenso sentido de justiça. Um dia tratámos-nos mal, na nossa vereação comum; acabada a Sessão de Câmara onde tal aconteceu, eu fui beber um copo, sozinho, como sempre fazia, ao "Nicol", um café do Centro de Arruda; bebi e saí. A sair da Câmara, vinha o Presidente Mário e disse, do alto da sua sabedoria humana : "Abel, ambos excedemos-nos"; eu reconheci e nem foi preciso pedir desculpas. Acabámos a comer "Frango à passarinho", no famoso "FUSO", logo ali em frente, junto com o Vereador Zé Maria, de Arranho, e o hoje Presidente, o então Vereador Carlos Lourenço, do PSD.


É este o "meu" Partido Socialista, que revejo nestes Camaradas, contra quem combati, mas que hoje , neste tempo onde a Esquerda é a possível, gosto de sentir, como um "aconchego" de uma vida longa de combates, onde, finalmente nos encontramos. Num território político comum, determinante para o País.

Abracei o Mário Henrique, no Congresso de Braga (não lhe o disse por pudor), como quem agradece a quem de algum modo, como a todos os outros que referi, sem o saber, contribuiram para, de forma determinante, pelo exemplo, de militância, mas, sobretudo de cidadania, me trazerem a este "meu" PS de hoje : o da ESQUERDA POSSÍVEL.






sábado, 3 de setembro de 2011

Crónica do Marco(V) e, ao mesmo tempo, Crónica de Avis (VI): maneiras diferentes de estar no trabalho social...



Juntei duas crónicas num só texto, pois a questão é transversal.
Recordo o carácter quase de"Diário pessoal" que este blog tem. Que contudo partilho com quem quer ler. E desabafo aqui.
Adiante.
Ontem fui a um dos confins da Diocese de Évora, a Fronteira, pequeno Concelho do Distrito de Portalegre. Porque a divisão administrativa não coincide com a eclesiástica, Fronteira, tal como Avis, estão na alçada daqueles para quem trabalho : a Cáritas de Évora e uma Fundação, canonicamente erecta (este termo é curioso), com sede em Avis.
Fui reunir com a Misericórdia local, para organizarmos formação para os seus profissionais e voluntários, como temos vindo a fazer, um pouco por toda a Diocese. Com uma particularidade: privilegiamos fazê-la em locais ou gente que, sistematicamente, por serem demasiado do interior, escapam ao interesse das grandes empresas de formação. Nomes como Boa-Fé, Giesteira, Ciborro, Azaruja, Ervedal, Fronteira, Galveias, Aldeia Velha, Alcôrrego, nada têm a ver com grandes centros, atrativos para quem tem os "pronto a vestir" da formação.
Mais uma vez, os dirigentes dessa Misericórdia, após acordarmos o tipo de formação a realizar, fizeram a clássica pergunta : "E a Cáritas e a Fundação, em troca querem o quê ? ". Tive de responder, como sempre, "Nada, só que nos abram a porta e nos ajudem a fazer o trabalho que esperam".
Voltei a Avis, ao meu "ermitério", como lhe chamo, e tive, uma vez mais, aquele doce sabor de estar, como dizia S. Paulo, a "combater o bom combate" e a contribuir, parafraseando Abrunhosa, para "fazer aquilo que ainda não foi feito".
Não se pense, contudo que as instituições que me enquadram neste trabalho comungam, totalmente, daquilo que faço. Nem sempre. Mas, depois, até ficam felizes e satisfeitos..; vantagens de ser "free lancer"...; mas não trabalho sozinho, há um mérito colectivo: existe uma relação próxima, familiar, dos formadores com os formandos mais persistentes que, permite, um trabalho conjunto de programação e um ambiente de partilha que, em quase 35 anos de ensino, nunca vivi. E não pedimos aos formadores que nos dêem uma percentagem dos seus honorários, como "donativo forçado"...
Hoje, de manhã, fiz, em Avis, o balanço da preparação de um outro projecto, saído e dirigido, no terreno, precisamente, por um grupo de formandos : criar um Universidade Sénior. O desafio foi feito a todas as forças vivas locais e, em 21 de Maio, quem quis participou numa reunião de reflexão, onde a Câmara participou, de onde saiu um compromisso da Autarquia com a Cáritas/Fundação e um plano imediato de trabalho. Concluí, hoje, que, numa área geográfica com pouco menos de 8 mil almas, há 87 inscrições na Universidade Sénior...; curiosamente, uma das disciplinas, que não constava da ficha de inscrição, mas foi sugerida por várias pessoas, será (o nome já é nosso) "Animação e guarda de crianças". Percebe-se : a instituição "avozinha" ainda funciona e essas avós, desocupadas mas que guardam os netos, querem aprender como o fazer melhor. Confesso a minha emoção quando fiz esta constatação e fiquei feliz por isso : as pessoas acolheram o ideia da Universidade Sénior e não de um modo meramente lúdico, pois querem, até, adquirir conhecimentos para essa nobre "ocupação" de guarda netos, sobrinhos, etc.
Bom, quem me lê dirá : mas isto é em Avis e o que é que tem a ver com o Marco ou a sua região do Tâmega ?

Muito.
Explico:
Há cerca de 2 anos, uma das maiores empresas de formação da zona do Grande Porto, com sede em Rio Tinto, disse publicamente que iria mudar a sua sede para Baião e o cerimonial de assinatura do protocolo que consagra, com a CM de Baião, tal, teve honras de comunicação social.A intenção era melhor servir o Tâmega. Na mesma área opera, na formação, uma Cooperativa de desenvolvimento. Com a mesma intenção. Essa empresa e essa Cooperativa, embora com natureza e fins diferentes, são o rosto de uma mesma atitude perante a formação e agem como tal : pegam no catálogo do "pronto a vestir" da formação já formatada e lá se vende o "fato feito" a instituições ou pessoas, que em troca de poucas centenas de euros, lá aceitam "receber" a formação. Pergunto eu: Com que envolvimento, com que participação, dessas pessoas e instituições, nas decisões de gestão e organização? Com que diagnóstico de necessidades ? Com que preocupação com a inclusão social e cidadã de quem é formado ou das instituições que colaboram ? E será que nas recônditas aldeias, naquelas onde estão os "últimos dos últimos", aqueles que não têm condições pessoais e sociais para ser objecto da formação "profissional", mas, tão somente, da formação "para a vida" ou "para a cidadania", estas duas faces do mesmo "império" fazem alguma coisa ou dão alguma resposta formativa ? Não, formação para a inlusão, apesar de financiada, tem de ser feita à "medida"; dá trabalho e parece não haver "alfaiates", pois é preciso construir planos de estudo próprios, abertos, flexíveis, é os tais "últimos dos últimos são muito trabalhosos !É isso: dá trabalho.
E de pedir a tal percentagem dos honorários como donativos forçados, nem falo !
Enfim, filosofias e metodologias diferentes de trabalhar...

Mudando de assunto, no Marco, o Presidente Manuel Moreira diz que quer fazer uma Universidade Sénior. Até já tem instalações, as que eram do antigo Núcleo de Árbitros do Tâmega, por detrás do "Pingo Doce". Não sei com que suporte, se de uma Associação a criar,uma vez mais saída do seu Gabinete e por si tutelada, ou se será uma iniciativa municipal do inenarrável Gabinete Social da Autarquia, ou mais uma tarefa a distribuir, uma vez mais, a alguma IPSS fiel do "regime" local.
Uma coisa é certa : mais uma vez parece algo construído a partir do "telhado" e sem ter por detrás nenhuma preocupação de participação dos destinatários na sua definição.
Enfim, outra vez, metodologias diferentes de trabalhar...
Para bom entendedor, fico por aqui.

Só uma nota final: onde ando a trabalhar, hoje, o Poder Local sabe que eu não sou da sua cor política e que não me revejo em muitas das suas atitudes. Aqueles com tenho uma relação laboral, são de raiz católica e sabem que eu não sou, hoje, dessa família religiosa. Mas há espaço, porque se valorizam as competências e poderes de cada um, para respeitar estas diferenças e construir projectos comuns, precisamente porque as diferenças enriquecem.
Isso chama-se concertar objectivos. É difícil, por vezes doloroso, significa dar murros na mesa, ás vezes bater, sózinho, nas paredes, falar e dizer, aos outros, olhos nos olhos, coisas complicadas . Noites sem dormir, também, a fazer contas ao pouco que se ganha e ao pouco que se tem para fazer tudo isto.
Nem tudo são rosas. Mas vale a pena !
Porque tentamos (nem todos nem sempre, mas tentamos) estar centrados na causa de servir as populações e quem mais precisa.

O que é diferente de autismo técnico e político.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Crónicas do Marco (IV) - Mais uma modernice de Manuel Moreira : convocar para reuniões através de notificação pela GNR !




Que se cuidem os Vereadores, Deputados Municipais, Autarcas de Freguesia, representantes locais de serviços da Administração Central !
A Câmara de Manel Moreira inaugurou uma nova prática, a convocatória para reuniões, através de notificação pessoal, no respectivo serviço ou residência, mas entregue pela GNR (isso mesmo, a Guarda Nacional Republicana) !!!



Seria anedótico se não fosse gravíssimo!


A história, repito, revoltante e lamentável, aconteceu ente 6ª feira e 2ª feira; omito os nomes dos envolvidos e dos serviços em causa; não porque tenha medo : irei, em breve, responder em Tribunal por algo que escrevi neste blog. Mas quero poupar outros a tais trabalhos.



Então foi assim:
Uma das "seguidoras de Manuel Moreira", com suposta responsabilidades de chefia de serviços, na Câmara do Marco, também coordenadora de um dos muito úteis foruns inter-institucionais (que serviriam para resolver problemas sociais, se não fossem "altares" para as "missas" ou loas a M. Moreira), convoca, uma técnica de um serviço da Administração Central, no Marco, para uma reunião. Esta técnica, convocada sobre a hora (recebe a convocatória de manhã para uma reunião á tarde) informou, por escrito(a dita "seguidora" parece que não recebe telefonemas, pois deve ter "categoria" a mais para tal), não estar disponível, pois tinha atendimentos marcados para utentes do seu serviço, que já não podia desmarcar.
A "seguidora de Manuel Moreira" não faz a coisa por menos : no dia útil seguinte, o piquete da GNR apresenta-se nesse serviço da Administração Central, no Marco, para, por ordem dessa "seguidora (logo, por lógica hierárquica, de Manuel Moreira, senão tal terá sido um abuso, a punir disciplinarmente), notificar a técnica desse serviço para comparecer em nova reunião !
Pasme-se : é verdade documentada !!! E em documento timbrado ! Uma pessoa é convocada para uma reunião, repito, UMA REUNIÃO, através de notificação, no seu serviço, pela GNR!!!
A douta "seguidora de Manuel Moreira" desconhece que existe um forma, talvez arqueológica, chamada "carta registada com aviso de recepção"! Ou outra, talvez tecnicamente demasiado evoluída, chamada "mail com prova de leitura" !
Mais: no uso ou abuso das suas funções, a dita "seguidora de Manuel Moreira" tem a ousadia (e quiçá o abuso) de pedir, por escrito, ao dirigente regional desse serviço da Administração Central que apure e comprove as razões da ausência dessa técnica na reunião !

Inagurou-se uma prática que nem Ferreira Torres se tinha atrevido a (ab)usar : convocar para reuniões através da GNR.

Comentei o facto com responsáveis, noutras Câmaras, do mesmo forum a que a "seguidora de Manuel Moreira" parece presidir, no nosso Concelho : riram-se, como é lógico...; até me disseram para informar os orgãos de comunicação nacionais. Mas fico por este post. Não será por mim que o País saberá que o Marco continua a ser exemplo deste tipo de dislates.
É este o governo local que temos : fomentador de incompetência (veja-se esta "seguidora", já com muitos anos de casa, que preside e coordena tudo o que existe na área social, com os não resultados existentes), prepotente, abusador, desrespeitador da dignidade das pessoas. Repare-se, o piquete da GNR irrompe num serviço para notificar uma técnica; a técnica estava a fazer atendimento numa freguesia, logo não estava lá. Perpassa a dúvida em quem assistiu: vinha ser notificada de quê ???
Mas este modo de governar, localmente, tem um rosto : Manuel Moreira.
Isto porque permite estes dislates e abusos, em papel timbrado ou provenientes de endereços electrónicos de serviços municipais ou aos quais o município preside.
Manuel Moreira está em queda livre e "parte" tudo onde vai batendo, na sua queda.
A não ser que, em definitivo, se demarque deste tipo de actos e tome medidas disciplinares necessárias. E, já agora, peça, no mínimo, desculpa aos abusados.
Guerra Junqueiro escrevia, no século XIX : "É fartar a vilanagem ! Ó Zé [Povinho], pega no lodão e corre com eles á bordoada!".
Hoje há um "lodão" chamado voto.
Que vou usar nas próximas autárquicas, para correr com este tipo de gestão municipal e a sua incompetente e, agora vi, abusadora "entourage".
Senão, com o ódio que existe para com quem pensa, tem ideias, interpela, com legitimidade pessoal e institucional, os "sacros" poderes de Manuel Moreira e seus "seguidores"(como é o caso da técnica agora vilipendidada com esta novel forma de convocatória) , só falta ressuscitar a Inquisição...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Crónicas do Marco (III) - Um eterno, mas sublime, desencanto


Na minha actual "comissão de serviço" no Alentejo, mormente em Avis, tenho, muitas vezes, saudades do Marco. Porque é lá que continuo a viver, onde tenho a minha casa e muitos afectos, alguns construídos desde que comecei a lá ir, em Novembro de 2006.

Não que me faltem causas, valores, objectivos que me preencham, no meu "ermitério" profissinal actual, de Avis: cerca de 70 pessoas, de várias idades e condições, encontraram, em actividades que vulgarmnte têm o substantivo "formação", um novo alento para serem, sobretudo, socialmente activos.
E são ! Vão nascendo, fruto da tal "formação", uma Universidade Sénior, um Banco de Voluntariado, um grupo de teatro amador (com 2 encenações, uma com fantoches, que fará história, aqui), um serviço de guarda de crianças...
E começou-se em Março. Numa instituição de raiz católica que, desde sempre, sabe que eu não posso ser católico. É claro, com uma Câmara que "permite" que isto aconteça, num Município gerido por uma maioria que sabe que eu nem comungo da sua cor política, mas que acolhe, apoia e deixa que façamos o nosso trabalho, que aprecia e, até, elogia.
"I love this game", como era lema da NBA.

Recordo a minha chegada ao Marco; a sobranceria e desprezo com que a Câmara de Manuel Moreira acolheu uma iniciativa de divulgação,em primeira mão, em Novembro de 2007, do QREN e dos seus apoios á acção social : após a sessão de abertura, Manuel Moreira e as suas "seguidoras", talvez por tudo saberem já sobre o tema, foram embora, não assintindo ás comunicações...; detesto quem julga que já sabe tudo , para esconder a sua incompetência !

Mas continuei a gostar do Marco, por isso lá continuo...

O mesmo Manuel Moreira, teve a ousadia de, na minha ausência, fazer insinuações sobre a minha pessoa, em plenário da Rede Social, em Maio de 2008, e convidado a colocá-las em acta, não o fez...; detesto a arrogância dos cobardes !

Mas continuei a gostar do Marco, por isso lá continuo...

O mesmo Manuel Moreira Moreira teve a pouca vergonha de comentar, junto de pessoas com quem colabarei, em dislate muito recente, que "ainda bem que ele se foi embora"...;detesto xenófobos, mesmo que educados!

Mas continuei a gostar do Marco, por isso lá continuo...

Na Regão do Tâmega vivi, também, algo que nunca, com a minha vida e curriculum, alguém me tinha feito : oferecer os meus serviços a uma poderosa associação de desenvolvimento e não ter tido qualquer resposta, nem sequer ter sido convidado para uma entrevista. Perdão! Tive...; mandaram-me um "recado", por terceira pessoa, dizendo que eu tinha competências a mais, que "aquilo" não era bem á minha medida, mas, sobretudo, que eu era muito polémico e Manuel Moreira fazia parte dos Orgãos Sociais...; detesto estatutos de servidão, por mais qualificada que ela seja!

Mas continuei a gostar do Marco, por isso lá continuo...

No Marco, já militante do PS, porque disse o que pensava, fui segundo suplente na lista para a Assembleia Municipal, nas últimas Autárquicas, nas listas do PS, porque, ao que dizem, sabe-se lá porquê, se eu fosse em lugar elegível, outros recusariam integrar as mesmas listas. Enfim, uma "lepra social" de que serei portador....; acontece que disputo eleições desde 1991, sempre em lugares elegíveis. Detesto democracias servis...

Mas continuei a gostar do Marco, por isso lá continuo...

Gosto, pois, do Marco : do café "Jocar" do Senhor Felix, do café Central do Senhor Alberto, do café "Pé de Vento" no Edifício Sonae; no mesmo edifício, do "7 ás 7" do Senhor Camilo;do Estádio e do piso sintético onde jogam as camadas jovens; do clube de patinagem; das salas de cinema, mesmo se vazias; dos taxistas em geral; da Alameda e dos seus cafés; de ver ruas com gente, de ver gente no Modelo, nos "Gémeos Ferreira", de ouvir uma rádio deplorável e de ler um jornal sem linha editorial; sobretudo, gosto do Marco porque é um Concelho pelo qual vale a pena combater pela mudança. E porque escolhi esse combate.

Por isso no Marco continuarei.
Mesmo se sinto um enorme desencanto, mas que, próprio de quem ama algo, se sublima.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Crónicas de Avis (V) - A minha capa de toureiro, com 4 anos de idade




Quem me conhece ficará admirado.


Teria eu 4 anos (em 1961)e queria ser toureiro. Isto fruto de uma "garraiada, então, em Mourão, terra do meu Pai. Vi os matadores (vá lá, da 3ª divisão tauromáquica de Espanha) nas festas do Concelho.


A minha Avó Juliana, mãe do meu Pai, fez-me, logo, nesse longínquo ano de 1961, duas capas (ou capotes) tauromáquicos, com o tamanho da minha idade. Muito pequenos (á medida do meu tamanho de então), contudo, muito vermelhos, prenunciando um qualquer futuro...


Dessas Festas de Mourão lembro-me de brincar, precisamente, ás Touradas, com o meu irmão mais velho e com um primo que hoje não sei quem era, no jardim de Mourão.


Ontem, o meu irmão referido, surpreendeu-me com a oferta da minha "capa tauromáquica" desse tempo, 50 anos depois; afinal não estava perdida, estava no vasto armazem de quem tudo guarda, como a minha Mãe fazia.


"À las 5 en puento de la tarde" de ontem, 18 de Julho, recebi, das mãos do meu "mais velho", de novo, a minha capa de aspirante a "matador", que julgava perdida...


Hoje não gosto, por ideologia e coerência, de touradas; mas confesso, que as vejo, sobretudo as que me chegam nos cafés onde a minha itinerância me leva, em canais espanhóis, com "matadores" a sério e touros devidamente maltratados. Sempre me lembro do "capote" que a minha Avó me fez aos meus 4 anos.


Vi, salvo erro, 4ª feira passada, uma das tais Touradas espanholas, na televisão, enquanto jantava, em Évora. Detive-me na poses teatrais dos matadores (bonitas e conseguidas), nas várias técnicas de lidar com o touro (estéticamente relevantes), na exacrável e bárbara acção dos "picadores". Lá me lembrei da minha "capa", de novo.


É bom voltar a ter esta "capa" de então e futuro e nunca concretizado "matador".


Porque não vou esconder esse "terrível erro" de infância : quando todos queriam ser coisas nobres como "bombeiros", eu queria, imagine-se, ser "toureiro/matador"...; hoje, continuo a querer ser aquilo que, por norma, não é correcto querer ser: cidadão com convicções e activo nas sua defesa, vivendo com a dignidade possível, "toureando" as desgraças do meu quotidiano...


Agora, com um "reforço" : o "capote" feito pela Avó Juliana.





Sabe-se lá porquê...










quarta-feira, 13 de julho de 2011

Crónicas do Marco (II) : Afinal tenho ancestrais marcoenses...




Nunca fiz do local de nascimento ou das raízes familiares um sinónimo de legitimidade na "pertença" a um local.
A minha vida pessoal e profissional sempre me fez chamar "minha" á terra onde, naquele momento, vivo ou que, pela via da acção cidadã, adopto..
Assim tem acontecido com Marco de Canaveses, desde 2007.

Estava, contudo, longe de saber que tinha uma tia-avó marcoense !

De facto, já no fim da sua vida, a minha falecida Mãe dizia-me : "Então está no Marco...; olha que tivémos lá família!". Confesso que atribuia esta afirmação a alguma confusão geográfica, fruto de alguma fragilidade mental derivada do seu estado de saúde. Sabia, contudo, que família do meu Avô materno, mormente os irmãos e irmãs, se tinham espalhado, na sua vida comercial, pelo Norte e Centro do País; o meu Avô chegou, na década de 20 do passado século, a residir no Porto, na Rua de S. Nicolau, tendo, mais tarde, ido para Évora, onde se fixou, em definiivo, como ourives e relojoeiro.

Após o falecimento de minha Mãe, em Novembro de 2009, ao arrumarmos os seus muitos documentos epistolares, descubro, com espanto, o blilhete postal de Natal, que reproduzo acima, datado de 10 de Dezembro de 1941, com um carimbo dos Correios de Marco de Canavezes.
A remetente chamava-se Ilda Simões e indica, como morada "Vila Boa do Bispo, Marco de Canavezes"; as Boas Festas são enviadas à minha Avó materna, Francisca Dias Simões (residente em Évora), que era casada com um irmão da dita Ilda, o meu Avô Vitorino Simões.
Apurei que a essa minha Tia-Avó Ilda casou com um marcoense de Vila Boa do Bispo (cujo nome desconheço, mas de apelido Teixeira)e que emigraram, depois, para o Brasil, onde ainda vivem os seus descendentes; soube, ainda, que a minha Tia-Avó acabou por regressar sózinha ao Concelho do Marco, separada do marido, onde faleceu nos finais dos anos 60 do século XX.

Repito: saber que tenho ancestrais marcoenses em nada acresce o sentir-me, desde que fiz a escolha de o ser, marcoense por opção.
Mas sempre me dá algum conforto, até por ser uma coincidência feliz...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Não basta querer ser "Nobre"...




Não me move simpatia especial pelo cidadão Fernando Nobre; sei que faz excelente trabalho na promoção dos cuidados de saúde, junto de quem no Mundo dos pobres, não os tem, e o faz bem.
Fernando Nobre, infelizmente para ele e para a ONG que fundou, foi vítima de uma "atracção fatal" pelo Poder, mesmo se com "boas intensões", talvez, ou seja, pensando que poderia trazer, ao mundo da política nacional, o voluntarismo do trabalho (sublinho) supostamente benévolo.
Não só tomou as atitudes erradas nos tempos ainda mais errados, como permtiu que algumas situações,mesmo que teórica e técnicamente defensáveis, como ter inúmeros familiares com cargos na AMI, lançassem a suspeição sobre o carácter meramente "benévolo" dessa entidade. Que, logo, "et pour cause", se desacreditou.
Partilho das críticas ao um desastrado Nobre, que se "pôs a geito" para ser, em definitivo, políticamente neutralizado. Talvez fosse isso que alguns pretendessem...


Contudo, reconheço-lhe a coragem de ter ido á luta. No hipócrita e servilista Mundo das denominadas IPSS, geralmente, como faz o amigo de Manuel Moreira (Presidente da Câmara do Marco), o Padre Maia, Presidente da CNIS, fica-se pela "pedinchisse", pela "chapelada" aos governantes, pelo tráfico de favores com Autarcas, pelo querer ter lucros dizendo-se que não os tem, pelo ser voluntário, mas ter principescos "benefícios "em espécie" (veja-se, também, o Padre Melícias, com voto de pobreza, enquanto franciscano, mas que nunca recusou os previlégio de Administrador do Montepio). Ou seja, andar no "champanhe, caviar, croquete e rissol", fazendo um enfastiado e falso esgar de sacrifício e murmurando inúmeros falsos actos de contrição...
Estes não têm, como dizem os alentejanos, "túbaros" para ir a votos na vida política nacional.
Pelo menos Nobre foi, desastradamente, sem geito, de forma menos digna.


Mas foi.
Correu-lhe mal...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Porque apoio FRANCISCO ASSIS para Secretário Geral do PS...



O que está em jogo, na futura eleição do Secretário Geral do PS, é a união de uma família, os Socialistas democráticos, não em torno de nomes ou de oportunidades de ocupar um lugar na ribalta política.
Sim, o que está em jogo é perdemos a vergonha e afirmarmos que somos de Esquerda, mas da Esquerda que não só pensa, mas faz e faz, sem “prostituir” o possível. Parafraseando o Camarada Manuel Alegre, o PS é a “Esquerda Possível”. A necessária.
Possível, porquê?
Porque ser de Esquerda, hoje, continua a ser acreditar que só com relações sociais baseadas na fraternidade, na igualdade, liberdade, e no trabalho, raiz de toda a vida económica, existirá um Mundo Novo.
Contudo não basta apregoar estes valores em tertúlias ou grupos de amigos bem pensantes, é necessário concretizá-los em politicas sociais palpáveis.
Por isso, no PS, estão os defensores conhecidos do Estado Social, onde se integra um Serviço Nacional de Saúde tendencialmente gratuito e universal, a Escola Pública (grande sonho da nossa centenária República), a protecção social a quem está em risco de exclusão, mormente por via da qualificação pessoal, social e profissional. Definimos isso, e de forma tão perfeita, em 2000, na chamada Estratégia de Lisboa : uma Europa cada vez mais qualificada, cada vez mais tecnologicamente avançada, e, por tal, cada vez mais inclusiva.
No PS, estão alguns dos primeiros a falar dessas ideias e das medidas concretas. Tornaram-se a nossa bandeira e imagem de marca. Repito, com as medidas concretas. Mas essas ideias e medidas tiveram nomes e esses nomes são, para mim referências porque ligados a políticas avançadas que, para sempre estarão associadas ao PS: falar de Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, Vieira da Silva, Edmundo Martinho, António Guterres, Franscico George, António Arnaut, Carlos Zorrinho, entre outros, é mostrar a nossa diferença : este nomes está associados a ideias e a medidas, a políticas concretas e de coragem que ACONTECERAM. Não são vazios, gente a quem não se conhecem ideias, mas, sim, ambições.
Mas, AGORA, na eleição do Secretário Geral do PS, a esta ideia de uma Esquerda Possível TEM de se juntar a de uma Esquerda de Coragem. O PS perdeu as eleições legislativas, recordo !
Sabemos o evidente: a crise é internacional e é de um modelo de sociedade. É o fim do neo-liberalismo. Contudo, também, aqui, o PS soube ser diferente. Enquanto os medíocres, sedentos de poder o permitiram, lutou pelo Estado Social; fez cedências, é certo, mas manteve a luta essencial : não impediu ninguém de ir a clínicas privadas ou de ter o filhos em colégios luxuosos, mas foi claro na opção pelo reforço da rede pública de saúde e educação .
Numa onda de pessimismo nunca vista e numa espiral de insulto fulanizado, tudo se esqueceu e só a desgraça foi noticiada. Sobretudo, atacava-se, apoucava-se e até se humilhava o rosto desta Esquerda Possivel e de Coragem : o nosso Camarada José Sócrates.
O PS deve eleger, pois, um Secretário Geral, também ele, proveniente da “Esquerda Possível” e, ao mesmo tempo, da “Esquerda de Coragem”.

Alguém que alie a um percurso de coerência ideológica e de prática pessoal e social, o “dar a cara” nos momentos difíceis (levar “porrada” em Felgueiras, por exemplo…).
Senão, em tempo de ser oposição, restará ao PS ser um “museu de ideias” ou um grupo de “tertulianos intelectuais”, definidos em florentinas descidas de elevador em dias de derrota eleitoral, para nada dizer, com omissões de solidariedade em momentos difíceis, enfim, com todo o perfil agradável a quem vê, na vida política, um jogo de “aparelho” partidário, e não um serviço cidadão.

Por isso, NÃO APOIO ANTÓNIO JOSÉ SEGURO.

POR ISSO, APOIO FRANCISCO ASSIS.

Crónicas de Avis (IV) - Um dia com Faísca Mcqueen




Ontem foi feriado.
Fiquei em Avis, como costume, por razões profissionais.
Acordei cedo; como hábito, dei a minha volta pela Vila, li os Jornais no "café".
Acho sempre que tenho trabalho a fazer, logo, não me detive muito, na rua.
Voltei ao meu "ermitério" e vi que, na SIC, decorria o dia "D", de Disney. Falo da produtora, pois o falecido (de muito dúbia personalidade), que criou figuras que acompanharam a minha infância (Donald e os seus assexuados sobrinhos, Pateta, o inenarrável Zé Carioca, Mickey, etc), há muito é só um nome e, quanto muito, um estilo de produção.

Aí, vi dois filmes de um novo herói, que desconhecia no seu conteúdo, o "carro" Faísca Mcqueen !
Um incontornável fosso de idades faz com que o meu conhecimento de tão ilustre viatura se limitasse á sua figura, por via da minha sobrinha Sara e da minha filha Raquel, esta por causa dos seus "meninos" da Creche onde é Educadora.
Ontem, portanto, "tirei o dia" para conhecer o tal carro "Faísca Mcqueen", cujos filmes nunca havia visto.
No mesmo dia, na mesma SIC, também passaram outros heróis (Sininho, HAna Montana), mas fixo-me no "Faísca".

Gostei de ver, nos dois filmes, um personagem "carro" que foi solidário ao ponto de perder uma competição para apoiar um adversário danificado, que se apaixonou por outra viatura e a namorou com muita intensidade, que apoiou uma outra "viatura" (velha referência de corridas antigas), aceitando a sua liderança, que mantinha amizade profunda com máquinas agrícolas, logo, menos "qualificadas", que o apoiam no seu sucesso, etc.
No fundo, tudo valores civilizacionais positivos e "aprendíveis" nos filmes indicados, que, assim, aparentemente, passariam ás crianças.

Logo, parece-me que o exagero está na "deriva mercantil" que se faz desses personagens, promovendo a sua figura, mas não os valores que incorporam. Para as crianças, é importante, se calhar, ter o "Faísca" (como brinquedo), como bem "de posse". Porque, depois, ninguem faz a criança associar, ao "boneco", os valores que ele corporiza nos filmes.

Foi bom passar um dia com o "Faísca Mcqueen"; confesso que o horário dos filmes regulou o meu dia, as minhas idas ao café, os meus momentos de trabalho, mesmo se era feriado.

Lembrei-me da velha frase final das histórias da minha infância : "A moralidade que se tira desta história é que..."....
Não sei se foi essa a intenção dos produtores, mas o "Faísca Mcqueen" mostrou-me, á sua maneira, como um Mundo Novo é possível, através da solidariedade, do exercício dos afectos, da valorização do outro, como igual, independentemente da sua "cilindrada".

Já agora, para o póximo Natal, alguem me ofereça um "Faísca Mcqueen"...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Crónicas do Marco (I)- Era uma vez um Concelho...




Transcrevo uma citação magnífica, de Eduardo Prado Coelho, feita no blog "marcoensecomonos.blogspot.com" :

"O problema está em nós. Nós como povo.
Nós como matéria prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro.
Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país:
-Onde a falta de pontualidade é um hábito;
-Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano;
-Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e, depois reclamam do governo por não limpar os esgotos;
-Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros;
-Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é muito chato ter que ler') e não há consciência nem memória política, histórica nem económica;
-Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser 'compradas', sem se fazer qualquer exame.
-Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar;
-Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão;
-Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes."


Agora, deixem-me ser imaginativo e inventar uma história, infelizmente real:
Era uma vez uma sede de um Concelho, grande mas rural, chamada Terras da Servidão; por facilidade, chamavam-lhe, só, Servidão, tal como a Terras do Bouro, no Minho, chamam, simplesmente, Bouro.
Assim, em Servidão, por razões perdidas na história recente e futura, viviam pessoas marcadas, por aquilo que Prado Coelho dizia, mas há muitas gerações : a vigarice, o clientelismo, o oportunismo, o tráfico de influências. Tudo isto era tão comum, tão habitual, que era considrado quase legítimo, quase indispensável, enfim, quase legal, um sinónimo de sucesso. Terras de Servidão tinha, assim, um estatuto próprio, há muito, a que poderíamos chamar, usando o nome da terra, o "Estatuto de Servidão".
Esse "estatuto" foi, pela sua prática, ainda mais vulgarizado e disseminado por um anterior (e quase eterno) Presidente de Câmara, que especializou quem vivia com esse "Estatuto de servidão" a pensar que, nas Terras de Servidão, não havia lei, a não ser as ordens do Senhor Presidente, neste caso, gestor do tal informal "Estatuto de Servidão".
Sucedeu-lhe um outro Presidente, este mais educado, mais polido mais culto, mas igualmente respeitador do "Estatuto" referido : nenhuma vigarice, mas muito, imenso, clientelismo, oportunismo quanto baste, tráfico de influências suficiente ; ele foi Chefes de Departamento de áreas onde nunca trabalharam, consultores que nunca dão consultas, "girls" arrogantes a quem não se conhece qualquer mérito, nas áreas em que trabalham, mas, sobretudo, uma maquiavélica relação com as instituições locais, que o Presidente criava ou destruía, conforme eram ou não fiéis ao informal "Estatuto de Servidão".

Terras de Servidão aparentemente prosperava, porque o "estatuto" funcionava.

Depois apareceram aqueles que contestam o tal informal "estatuto de Servidão"; cedo os poderes de Terras de Servidão, os isolam e tentam que eles se desmotivem e, de preferência, desapareçam. É que, mesmo os agentes locais ou nacionais, mesmo não concordando com o informal "estatuto de Servidão", conseguem, aravés dos seus representantes, fazer esse trabalho neutralizador.
Terras de Servidão recebe bem, não é xenófoba, mas ai de que desrespeite o tal informal "estatuto de Servidão", visível nas ruas, no jornal e na rádio locais, nas conversas de café, nos diálogos de rua.
Em Terras de Servidão, reina o tal estatuto.
As crianças e jovens cresceram com ele, os idosos garantem a sua eficácia, as instituições edificam-se sobre ele.

Mas como rasgar o tal "estatuto de Servidão" ?
Só tendo a coragem de não o cumprir e de expôr, publicamente, os "criminosos" que, á custa dele, têm vivido, durante gerações.

Mesmo que isso dure tantas outras gerações...

Sabem onde fica Terras de Servidão ? Algures em muitos locais. Mas eu conheço um, onde vivo oficialmente e por afeição (passo lá pouco tempo, precisamente por obra do dito "Estatuto"), onde um afluente encontra um grande rio, numa paisagem que, em tudo, convida á glória e á liberdade, e nunca á servidão: Marco de Canaveses.



terça-feira, 17 de maio de 2011

Crónicas de Avis (III) - Vivi 3 dias numa povoação medieval














Já escrevi que Avis seria um ermo, sem pessoas nas ruas, com 4 ou 5 cafés com gente.


Enfim, impressões de quem chega, e, como sempre faço, venho para trabalhar para a comunidade, quero, por isso, viver nela. Daí passar, lá, dias, noites, fins de semana.


É o meu modo de vida, de ser profissional do trabalho social.


O "ermo" acabou este fim de semana.


Vivi, entre 13, 14 e 15 de Maio, dentro de uma vila medieval, com os comerciantes de pontos distantes, com os infanções, cavaleiros, plebeus, escravos, mouros e hereges, nobre e clérigos, numa inesquecível "Feira Medieval".


Por sorte, o sítio onde pernoito e trabalho era mesmo no coração da Feira e bastava sair da porta para entrar nesse mundo.


Vivi, durante 3 noites, num largo do Castelo cheio de gente e com muitas instituições locais (escolas, Associações, comerciantes), verdadeiramente envolvidas na sua animação. E que demonstravam gostar do que estavam a fazer, mesmo se significava algum sacrifício.


Encantei-me.


Porque a identidade, a cidadania e a participação me encantam e conduzem a minha vida, em qualquer local. Logo, no momento, em Avis. E entendi, penso, o que esta passagem, que acontece em episódios anuais, do "ermo" á vida intensa, significa.


E deixei-me ir no encanto.


Aceitei ter uma serpente ao pescoço, colocada pela sua adestradora, ver reconstituições de eventos medievos como justas, liças, espectáculos de malabaristas e (muito) comer e beber coisas de hoje "travestidas", com gosto, de algo daquele tempo.


Concelhos assim, cuja importância é anterior á nacionalidade, não têm de inventar um lugar na História de Portugal ou dar-se ao trabalho de "puxar os galões". Aqui o desafio é descobrir e rentabilizar o percurso feito, ao longo de toda a História e dele tirar as lições que, em cada época histórica, foram de identidade e pertença cidadã.


Ele existe.


A identidade pode estar adormecida, episódios políticos destes 40 anos podem ter levado do entusiasmo á desilusão, da extrema participação á desmobilização cidadã e cívica. Só quem viveu esse tempo o compreende.


Percebi que a identidade tem lugar(es) e vivi isso com muita emoção e entusiasmo.


Desta vez, em Avis.






segunda-feira, 2 de maio de 2011

Crónicas de Avis (II) - Estética e Mudança








A minha vida em Avis, quando lá estou, o que começa a ser, tendencialmente, todos os dias e alguns fins de semana, sendo de uma produtiva, mas solitária, azáfama profissional (exceptuando os bem vindos formadores e formandos e colaboradores da Cáritas, que frequentam o meu "ermitério"), proporciona, ainda, uma solitária reflexão sobre a Vida e, mesmo, a "minha" vida".




Homem de vícios públicos e virtudes privadas (exacto, não me enganei na formulação...), não escondo, nunca, o que sinto e aquilo porque opto, quando de modelos de mundo e de vida se trata.




No dia 1 de Maio, a Câmara de Avis organizou um excelente concerto, de homenagem ao poeta Ary dos Santos, que foi um belíssimo fim de tarde de poesia, música e, para mim, reflexão. Quer dizer que fui lá. Ouvir Samuel, acompanhado por excelentes convidadas e por um naipe de instrumentistas de excepção. Numa sala que teria, talvez, 5 dezenas de pessoas.




Quem me lê, ao que sei, conhece-me. Sou cidadão de Esquerda, membro activo da Igreja Católica até aos 32 anos, simpatizante e militante do PCP entre 1991 e 2000 , militante do Bloco de Esquerda entre 2001 e 2007, militante do PS desde 2009. Ou seja, sempre soube do lado em que estou : o da cidadania participada, inclusiva e solidária, mas igualitária. E sempre me "inscrevi", ou seja, "dei o nome", "vesti a camisola", tive "cartão". E essas adesões tiveram cargas enormes de afecto e muito pouco de razão estratégica (por isso foram tantas)....




Ontem, sentei-me para ouvir poemas, ditos e cantados, de um Poeta que ouço desde os meus 16 anos. Propûs a mim mesmo fazer uma coisa : ouvir bem as palavras de cada letra ou poema, para perceber porque razão sempre me emocionaram ou empolgaram, a mim, que, nem a tal, por militância, estava obrigado...




Concluí o seguinte : a poseia de Ary dos Santos, mais do que a de muitos seus contemporâneos, dá uma imensa dimensão estética aos afectos, sejam eles por pessoas, coisas ou causas; usa metáforas e outras imagens de beleza extrema para os descrever : "Minha laranja amarga e doce, meu poema ...", "De linho me vesti, de nardos me enfeitei(...)mas nunca te encontrei, nas estradas do que fiz", não serão os melhores eexemplos dessa estética dos afectos, mas lembrei-me dessas frases.




Mas em 1970 e seguintes anos, não era comum falar assumidamente de afectos, muito menos dar-lhes dimensão estética explícita. Percebi que muito do encanto que existiu na poesia de Ary dos Santos terá sido esse : afirmar a importância dos afectos e do assumir a beleza dos mesmos, nos processos de "mudança" ou "revolução" social . Falar deles, sejam, repito, por pessoas, coisas ou causas, como algo que dá vida e beleza àquilo a que muitos só vêm como um combate frio e duro por ideias.




Depois, Ary dos Santos também escreveu sobre os afectos pelas lutas aparentemente dele mais desprovidas : (Re)ouvi "As portas que Abril abriu", a "Sonata do trabalhador".




E ouvi, aqueles temas "pacíficos", mas carregados de um simbolismo afectuoso a roçar o "proibido" , por isso a chocar para que houvesse mudanças : "Desfolhada" e "Menina".



Descobri, também, que me emociono e sinto, coisa rara, uma coisas que correm cara abaixo e se chamam lágrimas. Senti-o ontem, naquele concerto.



Não eram lágriamas de nostalgia do tempo em que ouvia aquelas canções ou dos companheiros e companheiras que as trauteavam comigo. Eram de emoção e orgulho por ter tido a sorte de ter crescido num tempo tão rico, onde até havia gente que conseguia fazer da estética (e) dos afectos um instrumento de mudança social.



Posso viver a contar os cêntimos, a correr atrás do trabalho, estar, por vezes, mal com a vida, "pisar o risco", mas nesta nossa afectuosa geração, também sabemos, como dizia o poeta em causa "pegar o touro pelos cornos da desgraça e fazer da tristeza graça".

Por isso, repetindo o poeta, "Porque somos a diferença, que faz de todos iguais, é que não há quem nos vença, cada vez seremos mais."
A isto, não há crise que resista...
























segunda-feira, 11 de abril de 2011

Crónicas de Avis (I) - Deus e a História a escreverem..


É curioso começar estes textos "Crónicas de Avis", num local onde passei em 1980 e hoje, 31 anos depois, tenho algumas responsabilidades numa instituição (imagine-se !) ligada Igreja Católica.
Cruzamento, casual, de duas visões organizacionais semelhantes: o centralismo, mas democrático e participado, ou, pelo menos, encenado.
Em 1980, talvez em Setembro, enquanto aguardava a discussão da tese de licenciatura em Sociologia, fiz, com outros colegas, de inquiridor numa sondagem sobre as eleições presidenciais que se adivinhavam para, julgo, Dezembro.
Da nossa "amostra" fazia parte o Concelho de Avis e um determinado número de pessoas escolhidas num sistema, para a época, seguramente aleatório : "na rua tal, fazes o inquérito a 2 casas pares e uma ímpar, depois, corta á direita e invertes o critério e assim sucessivamente" ; e isto servia para qualquer local, até recolhidas as entrevistas "amostradas". A empresa de sondagens ainda existe, é respeitável e de referência e, por tal, omito o seu nome.
Da Vila de Avis, desse Verão de 1980, recordo uma população muito envolvida na luta pela manutenção da "Reforma Agrária", então fortemente posta em causa pelo "bloco central" e com medidas drásticas para que terminasse.
Tive a honra de visitar, a convite, eu e os meus Colegas de "sondagem", várias propriedades que faziam parte da Cooperativa 1º de Maio, liderada pelo Camarada (do PCP) José Luís, hoje já falecido, mas que se manteve fiel, para variar, prejudicando-se a si e aos seus, até ao fim , ao que defendia : a terra a quem a trabalha. Hoje sei que foi um convite honroso e, do que vimos, guardo memórias vivas daquilo que foi uma utopia em construção, que, afinal, quem a montou acabou por a deixar cair, com os seus, sem ter feito disso um combate de princípio (e havia tantas armas espalhadas por tantas mãos...)
No Sábado, 9 de Abril de 2011, saí, no Expresso de Avis, para Matosinhos, via Lisboa (eu que oficialmente moro a 40 km do local) para o Congresso do PS, de que sou militante desde 2008.
Eram 7h 30m e vi o que, a todo o momento, constato em Avis : ruas desertas, sem ninguem, a não ser alguns nos poucos cafés abertos, a ler o jornal e beber o seu "copo".
Recordei 1980 e o actual largo da Câmara, então cheio de tractores e atrelados; e os celeiros comuns logo em frente. E a vida que fervilhava.
Hoje, edifícios, felizmente em reconstrução, vão permitir defender essa e outras memórias, sobretudo a mais antiga, a da Ordem de Avis, mais velha que a nacionalidade.
Num Concelho onde o PCP/CDU tudo ganh em qualquer eleição, desde 1974, acho imensamente curioso que seja uma Fundação, instituída por herança doada a estruturas da Igreja Católica (precisamente a partir de terras ocupadas e depois devolvidas) a chamar a si a rsponsabilidade de qualificar, activamente, com uma postura de proximidade cidadã, os habitantes deste Concelho.
Terá passado, nesta comunidade, à boa maneira dos Judeus, o "grande perdão", ou seja, "partir para outra". Por alguma rzão, em Avis, a Judiaria e Mouraria são dentro dos muros da cidade e não lá fora ...; a inclusão também é património histórico e de identidade.
Deus (e a História) escrevem direito por linhas tortas...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sobre a "Geração à Rasca"




Escrevo este "post" com algum receio.
É que vou tocar no "Estado Novo" nascente, onde criticar a onda dominante dá direito a anátemas...
Isto porque quero ser bem compreendido, como cidadão de Esquerda, que sou, e que entende tal como acreditar numa sociedade cada vez mais cidadã, participada e igualitária, em todos os níveis da vida, mormente no usufruto dos bens e riquezas.
Faço um "ponto de ordem " : tenho filhos dessa geração, uma com 26 anos e outro com 19; vivo, de perto, porque partilhar afectos é isso mesmo, a vida de outros, alguns mais novos, a quem estas questões, também, se colocam.
Faço um segundo "ponto de ordem" : também me sinto "á rasca" e já tenho 54 anos !!!
Por isso, compreendo a geração dos falsos recibos verdes (que eu emito desde 1997) e da precariedade (na qual eu vivo desde 2002)...
Mas gostaria de centrar a questão precisamente aí.

Os jovens da intitulada "Geração á rasca" vão fazer manifestações em várias cidades de Portugal e, também, noutras capitais europeias, em frente ás Embaixadas portuguesas, de acordo com o JN de hoje; repito, em frente ás Embaixadas de Portugal, logo, como se o problema fosse, só, português.
Isto merece-me uma reflexão, daquelas que posso exprimir, sem que, amanhã, me chamem "nomes feios".
Sabe a "Geração á rasca" que foi o modelo capitalista neo-liberal, existente desde 1980,que criou o modelo de fugaz prospreridade no qual cresceram, com um ensino que não qualificava, com o estimulo ao consumo, com um paradigma de sucesso baseado na competição quase fraticida, que criou esta estado de coisas ?
Sabe a "Geração á rasca" que as Associações Patronais, os Sindicatos, os "fazedores de opiniões" os continuam a enganar, incentivando-os a exigir aquilo que o tal sistema, onde as gerações anteriores viveram e os privilegidos prosperaram, já não pode dar : o emprego e trabalho para toda a vida ?
Sim, a precariedade é a regra, não a execepção; o trabalho dependente tenderá a ser substituído por cada vez mais prestações de serviços. Mas isso é o fruto do sistema que permitiu que os pais (como eu...) da dita "geração rasca", comprassem casas, carros, se endividassem e lhes transmitisem essa "pesada herança" cultural.

Da "Geração á rasca" retenho imagens concretas e claras, porque corporizadas em coisas e pessoas que vi :
- Um jovem, num "workshop", em Évora, em Junho, sobre empreendorismo, que, ao ouvir falar de sistemas de incentivo para a criação do próprio emprego, dizia "Mas eu não quero ser empresário, quero é saber QUEM VAI RESOLVER o meu problema de emprego"...
- Um jovem a quem os pais compraram um carro (como símbolo de alguma coisa...), que, morando em Vila Franca de Xira, dizia que tinha de ir na sua própria viatura para Lisboa, trabalhar ou estudar (não sei...), pois não tinha transporte públicos que o servissem (isto num local onde, de 20 em 20 minutos, há comboios urbanos para 3 linhas de acesso a Lisboa...)
- Um jovem tardio, já com 30 e poucos anos, morando na área metropolitana do Porto, em cuja cidade estudou e onde, hoje, é gerente de uma empresa, que confessa que NUNCA, na sua vida, andou de transportes públicos (por sinal, na zona de Portugal que há mais de 10 anos tem a melhor rede de transportes urnanos do País, que chega a 40 Km do centro do Porto...)
- Uma jovem, ainda hoje, que, no Expresso que me trouxe do Porto ao Sul do País, dizia que estava num estágio profissional e tem aproveitado os escassos meses de salário para comprar um carro e "meter-se" (entenda-se comprar, não arrendar...) uma casa, isto embora não soubesse onde se iria desenrorrolar a sua vida profissional futura.
Corro o risco de ser considerado "reaccionário", mas o que coloca, verdadeiramente, esta geração "á rasca" é o facto dos pais, dos professores, dos dirigentes sindicais, dos dirigentes patronais, dos lideres de opinião, enfim dos fazedores de opinião, lhes continuarem a dizer que existe o que há muito já acabou : o emprego dependente, fixo e permanente e todos os paradigmas e mitos culturais anexos.
Tenho 54 anos, vivi a adolescência e juventude vendo e admirando outros "rascas" ; os "hippies", que propunham um outro mundo, sem regras ou com outras novas, baseadas no amor livre e em fazer amor, não guerra (logo, em coisa e ideias diferentes das antigas); daqueles que eram presos, torturados, perdiam empregos e famílias, para lutarem por uma OUTRA ordem económica e social diferente e, por isso, eram realistas pedindo coisas impossíveis, mas estruturalmente diferentes das existentes.
Hoje, doi-me que a "geração á rasca" queira o refúgio do passado, peça aquilo que que o capitalismo neo-liberal já destruiu e, embora seja a geração mais qualificada de sempre, não tenha a capacidade de reivindicar SOLUÇÕES NOVAS, uma nova ordem económica e social, mas queira, sim, salvaguardar a aparentemente cómoda ordem moribunda, aquela onde os seus pais enganadoramente viveram, exigindo aquilo que o sistema já matou (o tal trabalho para a vida toda, certo e permanente).
Doi-me, a mim que ainda hoje luto, no dia a dia, pela dignidade do meu trabalho, ver que esta geração está a gastar energia, que podia ser criativa, centrando-se na manutenção de modelos que o sistema (que os icentiva), já "assassinou". Porque não propôr outros ?
Confesso : aplaudiria manifestações que, junto aos edifícios que representam em Lisboa, Bruxelas, Estrasburgo, etc, o sistemna que usou e descartou este modelo de sociedade, exprimissem o seu descontentamento e apresentaassem propostas para o futuro (os radicais do Maio de 68 , em Paris, fizeram isso, tal como os de Tianamem tal como os da Líbia, Egipto e Tunísia de hoje).
É que a crise não é portuguesa e parece que anda tudo distraído, quando o "novo mundo" parece renascer no Magreb, bem aqui ao lado, onde quem vive bem pior do que nós tem coragem de arriscar a "vida estável" em nome de soluções futuras e não na manutenção de respostas do passado, bem mais cómodas .
Tudo o que não seja isso, parece-me um exercício estéril, mediático ou, talvez, bem manipulado, pelos "suspeitosdo costume..."

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Porque há coisas que valem a pena



Saí do Marco de Canavezes, hoje, ás 7h 20m da manhã. Num autocarro que me deixou, nos Aliados, eram 8h 25m. Subi a 31 de Janeiro, passei a Praça da Batalha e comprei, na deplorável Gare que serve os Expressos que partem ou demandam a segunda Cidade do País, um bilhete para Évora (com desconto de passageiro frequente, custou-me cerca de 17 euros), destino entre outros, como um de tantos, onde a minha vida profissional, como a de todos, afinal, aqueles que buscam trabalho pago pelo preço que sabem merecer, demandam.
Cheguei a Évora eram 14h 45 m, logo, mais de 7 horas depois de sair do Marco, verdadeira versão mais curta desta viagem que, tantas vezes, repito.
Depois, constacto que, agora, sendo 23h 30m da noite, não me sentei no meu "poiso" de consultor, noutro edifício que não este onde escrevo. Isto porque fui reunindo com a minha equipa de formadores desde as 15h 30m até ás 19 h, porque tive de gerir os recursos audio-visuais de uma entidade promotora que, neste momento, tem cerca de 150 formandos, mas que não tem uma estrutura que me garanta que se tiram fotocópias agrafadas e coleccionadas, por exemplo.E isso tenho eu de o fazer, entre tantas outras coisas....Porque, no sector privado e solidário, também tudo encerra, administrativamente, ás 18 h... Bom, isto espalhado por 2 Concelhos e 7 Freguesias, em formação pós-laboral, onde o formando só recebe subsídio de refeição e de deslocação. Mas a procura é imensa e isso demonstra a validade de propostas formativas feitas "à medida" da população e não num "pronto a vestir" de uma qualquer empresa de formação.
Mas funciona. Talvez porque vamos, militantememte, procurar parcerias com instituições locais. Talvez porque deixamos ás pessoas considerarem os melhores meses, semanas e dias para terem formação e, perante isso e só após isso, fazemos "turmas". Talvez porque não teremos os "excelentes" formadores, mas aqueles a quem desafiámos e aceitaram o repto.
Talvez porque, por isso, em Freguesias do Concelho de Évora onde, tirando a "chulice" do "pronto a vestir" dos CEF, EFA e quejandos, apresentados pelas empresas de formação, nunca se fez formação "á medida", chegar lá e, em vez de pedir, oferecer, faz toda a diferença.
Recebi, há pouco, eram 22h, um "data-show" que amanhã tem de circular, para outro local. E faço-o quotidianamente. Antes, cerca das 21h 30m, tinha encerrado uma sala de formação. Pouco antes, em duas Freguesias rurais, cerca de 25 profissionais activas de apoio a idosos tinham recebido mais uma sessão de formação.
Depois, ouso pedir aos formadores "em transito", alguns morando a uma hora daqui, que reunam comigo e façamos um "ponto de situação", ás 23 horas ! E isso acontece...

Posso, agora, ás 23h 45m, ir dormir.
Hoje, a Caritas Diocesana de Évora(a entidade de que vos venho falando)deu formação a cerca de 70 pessoas, com uma estrutura minimalista. No dia em que houve um maior "pico" de formação, tivemos, em simultâneo, 135 formandos (em Novembro),todos pessoas que trabalham com publicos de risco e, mesmo, com as próprias pessoas em risco.
Baseada no espírito de Missão, com formadores que, na sua maioria, nem são católicos, mas se reconhecem neste "modo de estar", é uma experiência que me enche a alma, porque tem um conteúdo "ideológico".

De facto, com as "dores" de estar fora de Casa, de viver migrando, todos os fins de semana, com a limitação que significa, tantas vezes, "deitar vinho novo em odres velhos", consigo ganhar alento para viver com entusiamo, aos 54 anos e em "precariedade".
Infelizmente, a 400 Km de casa e gañhando metade daquilo que auferia há 3 anos...
A minha gratidão aos "meus" actuais formadores Andresa Oliveira, Carlos Mestre, Isabel Leocádio, Ana Borrego, Helena Esteves, Susana Gimenez, João Leitão, Marta Raimundo, heróis desta aventura.
Outros desafios vos (nos) esperam...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

1 de Fevereiro : Faço 54 anos



Hoje, 31 de Janeiro, tive a felicidade, de manhã, de ter uma conversa com a minha Colega Célia Franco, da Cáritas de Évora. Que me colocou na dimensão certa.
Acidentalmente, falámos sobre o que significa não querermos que o tempo voltasse para trás, porque vivemos bem a maturidade a vida.
Coincide que, na 6ª feira, ao Almoço, numa pausa de um Seminário, onde partilhei a mesa com o Marcos Olímpio, meu colega de lides académicas, hoje, ilustre académico jublilado, ouvio-o dizer, por outras palavras, o mesmo. Tive a felicidade de partilhar, com o Marcos, o melhor da minha vida académica e de o ter ao meu lado em diversos momentos difíceis posteriores, sem uma única pergunta sua, sem um pedido de justificação.
Tenho, por outro lado, convivido, nestes dias, com o magnífico septuagenário Leandro Vale, a dar formação para a dita Cáritas, em Artes Dramáticas, exemplo de quem vive por causas e a elas entrega tudo. No caso dele, mesmo tudo.

Pois : confesso que vivi (Pablo Neruda "dixit"), com tãos bons exemplos e desafios.

Percebi, nesse cruzar de contactos, que, de facto, não sou rico nem nunca serei e estou condenado a ter, todos os dias, de lutar pela minha vida. Mas sei ao que vou e no que acredito.
Mas percebi, PRINCIPALMENTE, uma vez mais que, como disse S. Paulo, "Combati o bom combate". E vou combatê-lo, á minha maneira. E isso vai-me bastando, porque olho o Mundo de frente, pois quero que ele seja melhor. Logo, não tenho de me queixar. Parafraseando Tony Carreira, é a vida que eu escolhi. Ou Abrunhosa, quando fala de levar os fantasmas de cada um ou fazer o que ainda não foi feito; ou como diz a banda sonora do filme "O Gladiador", desafiar o Império (esteja ele onde estiver).
Gosto do que faço hoje, em termos profissionais. Mas não gosto do tipo de vida que hoje vivo, e que tenho, muito nómada. Afinal aquela que, afinal, sempre apregoei que escolhi como minha e com a qual me dei bem. Logo, sem "Casa" fixa.

A não ser esta : no coração de todos os que me amam estará, sempre, a minha Casa. Essa é, sem dúvida, a mais segura.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Episódios de uma Campanha Alegre


Foi em Évora, no dia 12 de Janeiro, 4ª feira.



Na cidade onde eu nasci, mas de onde a minha vida profissional me foi afastando, desde há 30 anos, mas, que, nestes últimos meses, pelas mesmas razões, me acolhe temporáriamente, resolvi ir ao Comício de Manuel Alegre, na 4ª feira, dia 12.



Nunca escondi que vou votar em Manuel Alegre. Com a razão e com o coração, como diria Guterres.



Mas, como em Évora, práticamente, não conheço ninguém políticamente envolvido, do "lado esquerdo" (a minha militância política e partidária "organizada" é no Marco), lá fui, ao velhinho Teatro Garcia de Resende, na capital do Alentejo Central.



Não tenho por hábito emocionar-me, comover-me, em actos políticos.


Depois, estava num recinto onde predominavam pessoas para cima dos 40 anos, onde reconheci alguns velhos socialistas locais ou, mesmo, alguns "bloquistas" e, também, muitos antigos militantesdo PCP, o que me criou algum pessimismo.



Depois, chegou Alegre e a sua comitiva.



Ouvi os oradores, ouvi o meu Candidato.



Julgo que existe algo que escapa aos Jornalistas que acopmanham as campanhas, fruto, sobretudo, da sua juventude e falta de experiência política e de vida, mas que, a mim, me emocionou, nas palavras de Alegre : o dramatismo, justificado, com que Alegre refere aquilo que, para mim, está em jogo, ou seja, optarmos por um cidadão que vai ser um mero árbitro, um cidadão observante e distante, que não tem dúvidas e raramene se engana, no fundo (e isto digo eu, não o diz Alegre), um Salazar versão "social democrata", ou termos um cidadão cujas ideias, convições, causas, são conhecidas, que teve dúvidas e enganou-se, políticamente, muitas vezes, e que tem o perfeito entendimento das competências constitucionais do Presidente, pois "ajudou" a redigir a nossa Constituição. E esse cidadão é Alegre.



Emocionou-me que, no mesmo palco e por causa do que está em risco (o modelo de República e os valores da Esquerda - o Estado Social, a escola Pública, o Serviço Nacional de Saúde, os Direitos Sociais em vez da "caridadezinha"), tenham discursado pessoas que, no Parlamento, têm tido discussões violentas, como o Ministro Jorge Lacão (do PS) e a Deputada Helena Pinto, do BE. Ou ter visto, em acção de rua, o meu amigo, Miguel Portas, deputado europeu do BE ao lado de dois deputados do PS.



Emocionou-me ver que, afinal, ainda existem factores de unidade verdadeira, que mobilizam e unem a esquerda, como os que indiquei antes).



Esta é a verdadeira unidade, feita por causa de modelos, causas e valores, corpporizadas num Candidato.



Não percebo é querer-se uma unidade em torno de uma pessoa ou pessoas, mas sem ter por detrás projectos políticos, causas, valores, modelos, como acontece no PS de Marco de Canaveses, de cuja Comissão Política Concelhia me demiti, por causa disso mesmo.



Por isso, soube-me bem abraçar, no fim do comício de Évora, Manuel Alegre, pessoa pela qual nunca nutri simpatias especiais: abracei, nele, sim, os modelos sociais, as causas e os valores que ele, hoje, representa, e fazem de mim um homem de Esquerda.



Soube-me bem, depois do comício, num bar de Évora, ouvir pessoas como Helena Roseta falar, com paixão, daquilo que Alegre e o seu combate representam, como garante dos valores sociais da Esquerda.



Tal como me soube bem ouvir Isabel Alçada explicar o que entende por "Escola Pública"(diferente de "escolas do estado") e ver a sua tristeza pela suja manipulação que os magnatas do chamado ensino particular estão a fazer, por causa da revisão do apoio a essas escolas, onde aproveitam para reduzir, ilegalmente, salários e despedir trabalhadores, quando ainda NEM SABEM os valores novos que irão receber...




De facto, continua a valer a pena lutar e tentar congregar pessoas em nome de causas e visões sociais. "Sociais" porque valorizam o "ser" (ser cidadão consciente, que sabe o que quer do mundo e da vida) e não o "ter".