quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Por um Natal com a verdade possível...


UM BOM NATAL



Deus está vivo….

No “mais fundo do fundo” do hipócrita “espírito de Natal”, minado pelas estratégias comerciais, ainda é possível vislumbrar a mensagem essencial:

Deus é de todos e para todos.
Ultrapassa e faz convergir as diferenças culturais (significadas no “Reis Magos”), é anunciado ao Mundo pelos mais desprovidos (os pastores), desde logo perseguido pelos poderosos (simbolizados no tal Rei Herodes).

Mais tarde, deixará a Família, a sua Terra, a sua Segurança e irá tratar de mudar o Mundo. Afinal, fazer o essencial.

Depois, será morto, mas Deus só morre por 3 dias…; mas essa é outra parte da história, porque não há Natal sem Páscoa.

Agora, celebremos o nascimento e o seu simbolismo.


UM BOM NATAL, PARA MIM, É ISSO :

ACREDITAR QUE UM NOVO MUNDO SEMPRE TEM SIDO POSSÍVEL !




sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

UM NOBEL DA PAZ (DO) POSSÍVEL




Li o discurso de Obama, aquando da recepção, ontem, do Nobel da Paz.

Nunca fui muito seguidor da atitude facilitista de "endeusar" pessoas que, à partida, sabiam que teriam imensas dificuldades para, quando chegadas ao Poder, cumprirem, na integra, os objectivos máximos do seu Programa.

É assim com Lula da Silva, no Brasil. Quem o "endeusou", agora já tem pudor em o apoiar, na esquerda "radical" portuguesa.

É assim com Obama.

Pessoalmente (e o nome deste blog é, disso, prova...) hoje inclino-me a respeitar o "possível", ou seja, o aceitar que há quem tenha um programa político progressista, mas ter consciência de que só 75% será possível ser feito.

Li e reli o discurso "Nobel" de Obama e julgo-o exemplar. Sobretudo, porque se centra "no possível", sem hipocrisia.

Realça que não tem o estatuto de um Gandhi, de um Mandela, que deram a vida pela Paz. Com imensa sinceridade, diz que a "não violência" nunca teria travado Hitler, por exemplo. Também gostaria de acreditar que essa atitude poderia derrotar os tiranos. Aliás, o próprio Gandhi conheceu a vitória (derrota do colonialismo na Índia) e a derrota (cisão Índia/Paquistão) da "não-violência.

Fala, por isso, das "guerras justas", que é preciso travar para que a Paz seja possível. E dá exemplo dos progressos "possíveis" que a sua Administração tem feito, para, no mínimo, atenuar as injustiças dessas "guerras justas" (o fim anunciado da prisão sem direitos de Guantanamo, por exemplo).

Demonstrando um notável humanismo, reconhece, que como chefe máximo do poder militar dos Estados Unidos, manda muitos cidadãos para cenários onde (ele diz textualmente) alguns vão morrer e outros vão matar. E assume isso como uma responsabilidade, também, pessoal. No âmbito das tais "guerras justas".



Obama só me encanta, quanto baste. É o tal "possível". Tal como Arafat (a quem devo a "nega" de um visto para ir a Israel, por causa de uma foto, em 1979 onde, como dirigente estudantil, lhe apertei a mão) me encantou, como outra versão desse "possível". Ou como Mandela, por largos anos, teve e terá a minha militante admiração : fez o "impossível" que foi ter a grandeza de perdoar a quem lhe tirou mais de 30 anos de vida.



Parafraseando uma velha frase do Maio de 68, ser "realista" hoje deve continuar a ser exigir o impossível; eu faço-o, no campo do acreditar em utopias igualitárias e serem elas o destino final e a luz que conduz e informa as minhas lutas.

Contudo, isso não me cega ao ponto de não lutar, de imediato, e, sobretudo, congratular-me com a concretização do "possível".






sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Ainda há "lutadores" assim...

(Leandro Vale é o segundo, a contar da esquerda)

Conheci o Leandro Vale vai para mais de 30 anos, nos tempos quentes da Revolução e onde ela mais "fervia": em Évora, no Alentejo, onde ele, militantemente, trabalhava na edificação daquilo que hoje é o CENDREV (vulgo Centro Cultural de Évora).
Para os mais distraídos, o Leandro Vale é actor, encenador, escritor, radialista, jornalista, com vasta produção. A minha geração (aqueles que, hoje, têm mais de 50 anos...) recordar-se-ão do "teatro radiofónico", na então Emissora Nacional, dos Programas Infantis da RTP dos anos 60. Lá andava, como actor, autor, e encenador, mesmo produtor, o Leandro Vale. Mais recentemente, em produções da RTP/Açores (nem sempre valorizadas aqui no Continente), vimos o Leandro, por exemplo, num brilhante desempenho em "Mau tempo no Canal", ve-lo-emos em "Antero", só para citar alguns exemplos.
Reencontrei o Leandro, nos Açores, em 1991, ouvindo uma entrevista sua a uma rádio da Região, onde falava do seu novo projecto, já então em curso : o Teatro em Movimento.
A partir daí, eu e o Leandro temo-nos seguido mutuamente. No campo político partidário, não tanto. Ele permanece fiel ao seu PCP de sempre. Mas tratamo-nos por "Camarada", na mesma.
O Leandro é um exemplo de vida para mim, do alto dos seus 70 e picos anos.
É o último dos românticos.
Não tem automóvel, muito menos carta de condução, mas isso não o impede (e ao seu "Teatro em Movimento") de formar actores, encenar e produzir teatro no Algarve, no Alentejo, na Grande Lisboa, no Porto, em Esmoriz, no Nordeste Trasmontano, nos Açores...; aliás, só admito que exista um cidadão que conhece melhor do que eu os horários de comboios e autocarros, no País: precisamente o Leandro !
Qual D. Quixote, lutou e conseguiu fazer do seu "Teatro em Movimento" a primeira companhia profissional trasmontana e daí irradiou, geralmente com produções próprias, para o País inteiro. Muitas vezes desconsiderado e desvalorizado pelos Poderes (o Leandro escreve no seu Curriculum que é militante do PCP, por exemplo...), tendo uma lista de devedores talvez maior do que a do Ministério das Finanças ( o Leandro coloca o coração á frente da carteira...) continua a acreditar que as artes dramáticas são essenciais á qualidade de vida do mundo rural e do interior em geral. Por isso, por exemplo, agora, vive em Torre de Moncorvo e "irradia" a partir daí, não se coibindo, como fez nas Autárquicas, de aí, uma vez mais, dar a cara...(e já viveu e fez o mesmo em Bragança, Velas de S. Jorge-Açores, etc).
Homem de riscos e causas, é um amigo de Cuba e da causa castrista, que defende com uma paixão imensa (quiçá por vezes cega), o que o faz ser visita assídua daquela emblemática ilha.

Em Junho, o Leandro partiu uma perna. Temi, pela sua idade, o fim de tanta actividade agitada.
Qual quê ! Há dias, já pelo seu próprio pé e sozinho como (quase) sempre, lá apanhou o comboio no Pocinho, para mais uma digressão de apoio aos "discípulos". Confesso a emoção que senti quando constatei que ali temos, mesmo, um "homem de ferro".

Gosto de saber que tenho como Amigo alguém que, de facto,continua a, na vida, não ter meias-medidas, preconceitos ou interesses "interesseiros" : o seu nome é Leandro Vale.