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Leandro Vale é o segundo, a contar da esquerda)Conheci o Leandro Vale vai para mais de 30 anos, nos tempos quentes da Revolução e onde ela mais "fervia": em Évora, no Alentejo, onde ele, militantemente, trabalhava na edificação daquilo que hoje é o CENDREV (vulgo Centro Cultural de Évora).
Para os mais distraídos, o Leandro Vale é actor, encenador, escritor, radialista, jornalista, com vasta produção. A minha geração (aqueles que, hoje, têm mais de 50 anos...) recordar-se-ão do "teatro radiofónico", na então Emissora Nacional, dos Programas Infantis da RTP dos anos 60. Lá andava, como actor, autor, e encenador, mesmo produtor, o Leandro Vale. Mais recentemente, em produções da RTP/Açores (nem sempre valorizadas aqui no Continente), vimos o Leandro, por exemplo, num brilhante desempenho em "Mau tempo no Canal", ve-lo-emos em "Antero", só para citar alguns exemplos.
Reencontrei o Leandro, nos Açores, em 1991, ouvindo uma entrevista sua a uma rádio da Região, onde falava do seu novo projecto, já então em curso : o Teatro em Movimento.
A partir daí, eu e o Leandro temo-nos seguido mutuamente. No campo político partidário, não tanto. Ele permanece fiel ao seu PCP de sempre. Mas tratamo-nos por "Camarada", na mesma.
O Leandro é um exemplo de vida para mim, do alto dos seus 70 e picos anos.
É o último dos românticos.
Não tem automóvel, muito menos carta de condução, mas isso não o impede (e ao seu "Teatro em Movimento") de formar actores, encenar e produzir teatro no Algarve, no Alentejo, na Grande Lisboa, no Porto, em Esmoriz, no Nordeste Trasmontano, nos Açores...; aliás, só admito que exista um cidadão que conhece melhor do que eu os horários de comboios e autocarros, no País: precisamente o Leandro !
Qual D. Quixote, lutou e conseguiu fazer do seu "Teatro em Movimento" a primeira companhia profissional trasmontana e daí irradiou, geralmente com produções próprias, para o País inteiro. Muitas vezes desconsiderado e desvalorizado pelos Poderes (o Leandro escreve no seu Curriculum que é militante do PCP, por exemplo...), tendo uma lista de devedores talvez maior do que a do Ministério das Finanças ( o Leandro coloca o coração á frente da carteira...) continua a acreditar que as artes dramáticas são essenciais á qualidade de vida do mundo rural e do interior em geral. Por isso, por exemplo, agora, vive em Torre de Moncorvo e "irradia" a partir daí, não se coibindo, como fez nas Autárquicas, de aí, uma vez mais, dar a cara...(e já viveu e fez o mesmo em Bragança, Velas de S. Jorge-Açores, etc).
Homem de riscos e causas, é um amigo de Cuba e da causa castrista, que defende com uma paixão imensa (quiçá por vezes cega), o que o faz ser visita assídua daquela emblemática ilha.
Em Junho, o Leandro partiu uma perna. Temi, pela sua idade, o fim de tanta actividade agitada.
Qual quê ! Há dias, já pelo seu próprio pé e sozinho como (quase) sempre, lá apanhou o comboio no Pocinho, para mais uma digressão de apoio aos "discípulos". Confesso a emoção que senti quando constatei que ali temos, mesmo, um "homem de ferro".
Gosto de saber que tenho como Amigo alguém que, de facto,continua a, na vida, não ter meias-medidas, preconceitos ou interesses "interesseiros" : o seu nome é Leandro Vale.