segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

CRÓNICAS DE AVIS (VII) - EM AVIS FALTA CIDADANIA ATIVA


Fez, em 14 de Fevereiro, 2 anos que vim residir para Avis.
Geralmente, 2 anos não chegam para que alguém possa opinar sobre o local onde vive, ainda mais quando essa vivência começa por ser feita por causa da vida profissional e, só depois, se torna uma opção pessoal de fundo.

Contudo, penso ser o meu caso diferente. Logo no primeiro dia que pernoitei em Avis, logo no primeiro fim-de-semana que cá passei, tive a preocupação de andar muito na rua, saber onde ficavam os cafés, saber os locais do (pouco) comércio, etc. Sempre assim fiz, nos muitos locais onde tenho vivido, por razões profissionais que, cedo, se tornam pessoais. Nunca fui de ter “torres de marfim” onde me refugio, feito “Senhor Doutor” ou “intelectual”. Às vezes perco mais do que ganho, mas, enfim, são escolhas.
Tudo isto, penso, autoriza-me a ter opinião sobre o que faz falta em Avis .

Assim, começando pelo fundamental :
EM AVIS FALTA CIDADANIA ATIVA

Chocou-me, nos meus  primeiros dias  de Avis, em 2011, o contraste com a Vila que eu conhecera no tempo da “Reforma Agrária” : via, agora, ruas desertas,  casas degradadas e abandonadas, o que levava a pensar : “Onde me vim meter ?”.  Por causa da atividade profissional que cá vinha fazer (abrir as portas de uma Fundação “em banho maria” e organizar, na mesma, um pacote de formação) , logo tive de contactar com os Poderes Locais, fossem eles órgãos municipais ou instituições. Fui corrigindo essa imagem. O sítio “onde me vim meter” tinha características próprias, mas, era potencialmente vivo, e isso logo ficou evidente, por exemplo, nas mais de 60 pessoas que, durante um ano, procuraram e frequentaram formação, ou no encanto inicial (sublinho o “inicial”) que os poderes tiveram pela minha pessoa e pelo que eu fazia.

Esperavam-me experiências e tempos difíceis, um ano depois de cá chegar (digamos, a partir de Fevereiro de 2012) : os poderes locais, porque, gradualmente, perceberam as minhas opções políticas e ideológicas (que nunca escondo, sublinho), começaram um lento “tirar do tapete” e um camuflado desincentivar de tudo o quê lhes parecia feito ou emanado da minha pessoa. Recordo o episódio, de 5 de Novembro de 2011, com a apresentação da Universidade Sénior de Avis : nesse dia e na sua preparação, “pompa e circunstância”; depois, o desinteresse, a omissão, que se foi transmitindo a alguns que voluntariosamente, se tinham oferecidos para trabalhar. Houve quem me dissesse :  “Como a Câmara não apoia, isto nunca vai ter força para continuar, logo, não vou perder tempo a colaborar…”
Em suma, este (e outros) episódios levam-me a pensar o seguinte :

- EM AVIS, UM PODER LOCAL, QUE DURA HÁ 36 ANOS, POR TER SIDO IMENSAMENTE “PAI DOMINADOR”, CONDICIONOU A CAPACIDADE  DA POPULALÇÂO PARTICIPAR

Explico melhor : como em muitos locais do País, onde o Poder (seja de que cor for) é esse “pai dominador”,  cresceu, aqui, um espírito de “comprar tudo feito”, ou seja, a população habituou-se a usufruir de bens e produtos (culturais, educativos, associativos, até económicos) sem ter necessidade de participar na sua produção, na sua conceção, ou, mesmo, de ter ideias novas para eles. O Poder Local e alguns outros poderes institucionais substituíram-se á republicana ideia da participação cidadão e apropriaram-se dela . Mesmo, salvas honrosas exceções, o movimento associativo ou alguns “bem pensantes” locais (repito, aqui como noutros muitos locais) tende a viver, de forma subsidiária, em relação a esses poderes, receando, até, autonomizar-se deles ou pensar e agir de forma que o “afronte”.
Numa terra que foi, há menos de 40 anos, a “capital da Reforma Agrária”, um movimento social de vasta participação popular, isto parecia-me estranho.

Contudo, não o era, numa segunda análise. Nesses tempos brilhantes do pleno emprego no Concelho, no fundo, as pessoas já iam “comprando tudo feito” : eram os dirigentes que desse movimento que  eram o tal “pai dominador”, cuja preocupação era que todos tivessem o que precisavam, fornecendo-o, e não envolvendo as pessoas em todo o processo que a tal conduzia. As pessoas eram “consumidores finais” de um bom produto (sem dúvida), mas não estavam totalmente envolvidos em todo o processo.

Ora, se tivermos em conta que o movimento social da Reforma Agrária foi dirigido pelo PCP e que o mesmo PCP sempre teve o Governo Político do Concelho, podemos concluir que o “pai dominador” funcionou sempre, na história contemporânea do nosso Concelho, tudo provendo, tudo fornecendo, considerando desnecessária a participação dos cidadãos ou fazendo dela um mero cerimonial. Veja-se, por exemplo, naquilo que eu considero, num Concelho supostamente governado á esquerda, as tristes e cinzentas cerimónias das comemorações do 25 de Abril, onde não vi quase nenhum “cidadão comum”, como eu e onde nem a oposição nos órgãos autárquicos compareceu. Veja-se, por exemplo, a frase, que quantas vezes ouço, tipo “A Câmara que faça !”, ou, numa outra face da mesma moeda, a preocupação , quando existe uma nova iniciativa, “Mas a Câmara sabe que isto vai acontecer ?” (esta já me aconteceu 2 vezes). Ou, um caso institucional, o falhanço da tentativa de implementação, em Avis, da Agenda XXI Local, metodologia de gestão participativa de um município.

Em suma, Avis precisa de uma cidadania ativa.

Como referi, há exemplos excelentes, em Avis, de iniciativas do movimento associativo, repito, iniciativas próprias, que, naturalmente, os poderes apoiam, logística e financeiramente.

Mas, continuando a usar a linguagem da psicologia, não sei se o assumir da cidadania, em Avis, pelas pessoas, não passará pela substituição de um Poder que é “Pai dominador” (tudo faz, põe ao dispor e controla), por um Poder que seja “Pai nutritivo” (que estimula, suscita atitudes e iniciativas, respeita a autonomia e caráter de cada um e apoia).

 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

RETOMO O MEU BLOG, EM EXCLUSIVO COM "CRÒNICAS DE AVIS"



Este blog tem vários anos.
Em 25/05/2012, encerreva (pensava eu...) um conjunto de textos chamados "Crónicas de Avis".
Iniciei-o em 11/04/2011, 2 meses depois de ter "assentado praça" em Avis  e, hoje, considero que essas foram as crónicas do meu encanto, com uma terra e um Poder que acolhia tudo o que eu sugeria; a última, de 25/05/2012, é a crónica de um desencanto quase final. Por vezes, as "Crónicas de Avis" cruzavam-se  com as "Crónicas do Marco", outro Concelho que é a minha paixão, mas onde, hoje, não resido.
Hoje, reabro este espaço. Porque, em Junho de 2012, resolvi que a minha vida profissional e social, nesta terra do Mestre de Avis, que uma estranha aliança quiz liquidar, só dependia de mim. A Universidade Senior e a Àgora Avis por mim falam ...
Vai haver eleições autárquicas em Novembro e eu, Avisense por opção, que escolhi, há 2 anos, aqui viver, aqui tenho morada oficial, aqui irei votar, julgo-me no direito de dizer o que penso, sobre o melhor para a minha terra atual. Sem que ninguem me tenha "encomendado o sermão".
Quem quiser atualizar-se e ler o que, antes, escrevi, sobre Avis  - CRÒNICAS DE AVIS" (do encanto ao desencanto, diria hoje ), aqui deixo as datas dos "posts", ainda disponíveis na barra respetiva :
11/04/2011
02/05/2011
17/05/2011
24/06/2011
03/09/2011
25/10/2011
25/05/2012
A todos e aos Avisenses em especial agradecerei leituras e comentários.