sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

UM NOBEL DA PAZ (DO) POSSÍVEL




Li o discurso de Obama, aquando da recepção, ontem, do Nobel da Paz.

Nunca fui muito seguidor da atitude facilitista de "endeusar" pessoas que, à partida, sabiam que teriam imensas dificuldades para, quando chegadas ao Poder, cumprirem, na integra, os objectivos máximos do seu Programa.

É assim com Lula da Silva, no Brasil. Quem o "endeusou", agora já tem pudor em o apoiar, na esquerda "radical" portuguesa.

É assim com Obama.

Pessoalmente (e o nome deste blog é, disso, prova...) hoje inclino-me a respeitar o "possível", ou seja, o aceitar que há quem tenha um programa político progressista, mas ter consciência de que só 75% será possível ser feito.

Li e reli o discurso "Nobel" de Obama e julgo-o exemplar. Sobretudo, porque se centra "no possível", sem hipocrisia.

Realça que não tem o estatuto de um Gandhi, de um Mandela, que deram a vida pela Paz. Com imensa sinceridade, diz que a "não violência" nunca teria travado Hitler, por exemplo. Também gostaria de acreditar que essa atitude poderia derrotar os tiranos. Aliás, o próprio Gandhi conheceu a vitória (derrota do colonialismo na Índia) e a derrota (cisão Índia/Paquistão) da "não-violência.

Fala, por isso, das "guerras justas", que é preciso travar para que a Paz seja possível. E dá exemplo dos progressos "possíveis" que a sua Administração tem feito, para, no mínimo, atenuar as injustiças dessas "guerras justas" (o fim anunciado da prisão sem direitos de Guantanamo, por exemplo).

Demonstrando um notável humanismo, reconhece, que como chefe máximo do poder militar dos Estados Unidos, manda muitos cidadãos para cenários onde (ele diz textualmente) alguns vão morrer e outros vão matar. E assume isso como uma responsabilidade, também, pessoal. No âmbito das tais "guerras justas".



Obama só me encanta, quanto baste. É o tal "possível". Tal como Arafat (a quem devo a "nega" de um visto para ir a Israel, por causa de uma foto, em 1979 onde, como dirigente estudantil, lhe apertei a mão) me encantou, como outra versão desse "possível". Ou como Mandela, por largos anos, teve e terá a minha militante admiração : fez o "impossível" que foi ter a grandeza de perdoar a quem lhe tirou mais de 30 anos de vida.



Parafraseando uma velha frase do Maio de 68, ser "realista" hoje deve continuar a ser exigir o impossível; eu faço-o, no campo do acreditar em utopias igualitárias e serem elas o destino final e a luz que conduz e informa as minhas lutas.

Contudo, isso não me cega ao ponto de não lutar, de imediato, e, sobretudo, congratular-me com a concretização do "possível".






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