quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Homenagem á minha Mãe



Faz amanhã, dia 12 de Novembro, um ano que faleceu a minha Mãe.


Há pouco menos de um ano, neste meu blogue, fiz-lhe a homenagem que achei justa, aquando do seu aniversário natalício, que ela não viveu (27 de Novembro).


Hoje, recordo a minha viagem, do Marco para Évora, no seu último dia de vida.


O meu modo de encarar a minha fé (e convicção) na vida eterna nunca me fez ter aquela tensão de querer ver as pessoas que amo, antes da sua morte. Assim foi com o meu Pai, assim foi com a minha Mãe, assim, espero, que outros o façam comigo.


Recordo a minha viagem de "Expresso", nesse dia do ano passado, do Porto para Évora, quando, cerca das 16h 30m, o meu irmão mais velho me ligou e eu perguntei-lhe "A nossa idosa, como está ?" e ele disse, "Já não está...". E do telefonema do meu irmão Quim, a dar-me a mesma notícia e a referir que eu não tinha de me fazer forte. Uma vez mais, não verti uma lágrima...


Mudei de autocarro em Fátima e tinha 35 m de espera.


Lembrei-me , nessa altura, do Hotel, onde em 1996, eu e a Helena tivemos o prazer de ser os últimos a proporcionar uma viagem e estadia, num local de referência, aos meus Pais (eles casara, em 1952, em Fátima). Devemos ter batido o "record" do Mundo de baixa velocidade, pois ambos tiveram dificuldade para fazer (com eles) os 300 m do Santuário ao Hotel (e tivemos de pedir um Táxi...) e levámos 1h 30m.


Lembro a sua alegria, nos almoços e jantares no Hotel, para os quais, á "moda antiga", se vestiam com outras roupas e desciam , do quarto á sala de refeições e tinham um comportamento cerimonial (como era da "norma") e afável e educativo, como era próprio de Pais. Orgulho-me de os ter feito passar esses momentos.


Mas no dia do seu falecimento, nesse intervalo técnico entre "Expressos", teria tido o tempo de ir ao Santuário de Fátima e rezar por ela.


Não fui. Fui ao tal Hotel Verbo Divino, último das tais suas noites fora de Casa, pedi, no Bar, uma taça de espumante das Caves Ailança (bebida familar da minha Mãe), verti gotas no chão (á maneira latina, que expliquei ao funcionário e o emocionou e, logo, não me cobrou essa bebida) e parti para o seu funeral.


Hoje, confesso, não me tenho preocupado em saber se vai haver uma Missa por "alma" de minha Mãe. Confesso a minha falta de geito para esse culto dos nossos antepassados (não gosto de "mortos"), nem dos termos circunstanciais da "eterna saudade". Talvez porque não a tenho, nem possuo essa visão. A essência do Ser dos meus Pais repousa no seio D'aquele em que eles acreditavam e, por tal, que pode avaliar o seu desempenho neste Mundo. E os tem, decerto, na sua graça.


Da minha Mãe, recordo a Senhora que me lia histórias, que fazia "milagres" de economia doméstica, que, contudo, não deixava de gostar das coisas "sofisticadas" que a sua condição de menina de "boas famílias"a haviam habituado. E que o meu Pai se esforçava por lhe garantir.


Há meses, do espólio documental da minha Mãe, o meu irmão mais velho mostrou-me uma fotografia, de quando ela tinha 17 anos, dedicada ao seu namorado, o meu Pai, onde, no verso, lhe pedia desculpa pelos "sofrimentos" que lhe causava pelas suas dúvidas, hesitações e limitações no espaço e tempo para namorarem(pois estávamos na década de 40 do secúlo XX); casaram , só, 12 anos depois...


Gosto destes "resistentes" de sentimentos e convições de vida. E que pagaram toda a sua vida por isso. Que nem sequer se inibiram de me apoiar em coisas (políticas) que nem gostariam.

A propósito. esta semana a minha irmã, em cuja casa eu durmo em Évora, nesta minha vida profissional, deu-me uma colecção dos recortes de jornais que a minha Mãe (e, certamente, na sua vida, pelo meu Pai), juntou das minhas campanha políticas, desde 1993. Cá para dentro, emocionei-me, pois eram causa em que ela, decerto, não acreditava, mas fazia-o por mim.

Por isso, a minha Mãe, que se chamava Maria de Lourdes (com "o" e "u", como ela dizia), é, para mim, uma "Nossa Senhora de Lourdes", protectora e afectuosa, mas, também, tolerante das atitudes que não aprovava, de cujas ditas aparições ela é contemporânea.

Digo isto sem "eterna saudade", e sem esperar encontrar quem quer que seja, na "outra vida"( na qual creio, mas que não me compete avaliar se a mereço), mas porque sei que ganhou o direito á eternidade, apesar do seu "mau feitio"....








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