Conheço o mundo da formação profissional desde 1988, quando, logo nos alvores, a "formação", nascendo "torta", serviu para encher os bolsos de muitas empresas, pois, nessa altura, pouco ou nada se exigia a quem se propunha organizar formação, sendo, até, muitas vezes os próprios Centros de Emprego a "mendigar" para conseguir promotores. Repito, isto em 1988.
Depois, veio a regulamentação disciplinadora: a certificação dos formadores, a acreditação das entidades formadoras, etc.
Em 1999, segundo o extinto IQF, existiam mais de 900 entidades formadoras acreditadas, só 35 vezes mais do que aquelas que, em 1988, organizavam formação.
Rapidamente a formação se constitui como "remédio" para tudo : para o insucesso escolar, para o desemprego, até para viabilizar gabinetes de contabilidade...
Sugiram alguns "cromos" que ainda hoje se mantêm e definem o sector :
- O eterno"formando" , que procura cursos como quem procura emprego, aliás, olha cada curso como um emprego, não se detendo na utilidade do mesmo, mas, antes, querendo, somente, saber o valor da bolsa de formação; conheci, recentemente, um cidadão com 48 anos que NUNCA trabalhou na vida, pois sempre tem andado em "cursos";
- A entidade formadora "oportunista", que, mesmo tendo sede num "vão de escada", organiza formação em todo o País. Fabricou várias "chapas 5", ou seja, textos de fundamentação de necessidade do curso x no local y, que, contudo, são iguais para Viseu, Porto, Freixo de Espada á Cinta, Arrentela, Amareleja, etc. E consegue o financiamento do FSE !
- As siglas que, tal como num" pronto a vestir", anunciam cursos pé-formatados pelas tutelas, onde tudo está já concebido, desde os módulos, conteúdos e onde é só aplicar, sem qualquer laivo de criatividade. Siglas como EFA, CEF, CET, etc, para quem anda neste (sub) mundo da formação, quer dizer isso mesmo : um "pronto a vestir" de qualificação e habilitação, que pouco acrescenta aos conhecidos vícios do ensino básico e secundário.
Na minha modesta opinião, a falência do sistema de formação está, antes de mais, nessa "caderneta de cromos".
De facto, o tendencialmente "eterno formando" procura curso atrás de curso e, assim, alimenta as entidades formadoras que, numa lógica facilitista, lhe fornecem os produtos "pré-formatados", pois até lhes permitem aceder ao 9º, ao 12º ano; acontece, contudo, que, tal como nas velhas cadernetas dos "cromos da bola", há os difíceis e os fáceis, ou seja, aqueles que conduzem o processo pedagógico com rigor e aqueles que o fazem de modo obscenamente fácil.
Mas a "encadernação" da caderneta explica o drama actual do mundo da formação. Como referi, as entidades formadoras cresceram em progressão geométrica, como cogumelos e nenhuma tutela consegue refrear tal fenómeno, por mais apertado que seja o crivo da acreditação de entidades.
A agravar, as entidades formadoras não se especializaram, ou seja, continuam todas a "vender" o mesmo , os tais EFA, CEF e outros. É ridículo ver as centenas de cursos das áreas de apoio social e à comunidade, ou outras, que continuam ser feitos :Geriatria, TASPC ou TICs variadas, cabeleireiros e esteticista (qualquer dia temos um "personal hair stilist" para cada português)...
Por outro lado, a escola pública, hoje, coloca no mercado, também, esses produtos de "pronto a vestir" formativo, com evidente vantagem sobre as outras entidades.
É evidente que, há muito, a oferta é superior á procura e um certo "darwinismo social" está a acontecer.
O que resta então :
Ás entidade formadoras, reflectirem, reconverterem-se, especializarem-se em áreas específicas de formação e, sobretudo, conceberem produtos próprios (acabem com o "pronto a vestir"...), baseando-os em diagnósticos sérios .
Sei que é difícil (trabalhei e estive ligado a várias), mas sempre tal defendi cheguei a tentar lançar estas dinâmicas.
Por isso, sei do que falo.
Mas voltarei ao tema.
Muito conta, sobte os curso de formação, mas falta apontar uma das lacunas, que de inicio, era prática corrente.Pois aos formantes, de menor idade e outros mais crescidos, que lhe colocavam, os recibos para assinar de vários meses,alegando que tinham de ser enviados, para justificar, que havia alunos, pagavam dois meses e o resto, quando perguntava "Resposta" ainda não chegou a verba e assim passavam sem receber o resto. Ficando as escolas de formação com as verbas.
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