quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Memórias de onde fui feliz (1)...



Estávamos em 1979 (meu Deus, estou mesmo velho !!!) e o Dr. Abílio Fernandes, Autarca de referência em Évora, militante do PCP, amigo do meu Pai (por sinal, militante nº 3 do PPD/PSD de Évora), aconselhava-me a mim, jovem quase licenciado, membro de uma lista de "Esquerda" que geria a Associação de Estudantes da neo-criada Universidade de Évora, com a sabedoria que o caracteriza, convidava-me a "conhecer" melhor o PCP. Sabia ser um convite a aderir ao PCP e, com amizade e respeito, disse que não era o meu caminho. Afinal, eu era um "rapaz" dos "meios" católicos...
Evitei o inevitável.

Em 1992 (Outubro) trabalhava nos Açores, com responsabilidades de coordenação, no organismo regional da Segurança Social. Porque, embora com algum "déficite democrático" (Mota Amaral, contudo, não era um Alberto João Jardim) sou convidado, por um outro ilustre militante e dirigente do PCP (José Decq Mota), a ser o candidato nº 3, ao Parlamento Regional, nas eleições regionais de 1993. Recordo uma das mais belas campanhas eleitorais da minha vida, feita quase sem meios, mas usando, até à exaustão, os disponíveis (tempos de antena, debates nas rádios e TV regional), o ambiente de medo que reinava. Recordo, sobretudo, as vezes em que fui ao Parlamento Regional, trabalhar com o único deputado eleito pelo PCP /CDU e como ele, "ipsis verbis", usava os meus textos, com toda a confiança e como fui, várias vezes comentarista, da RTP Açores, em nome do PCP, de vários assuntos. E eu era "independente", não era militante do PCP...

Recordo Dezembro de 1993, nas Autárquicas desse ano, onde fui cabeça de lista, como independente, pela CDU, à Câmara de Arruda dos Vinhos, terra onde vivi(a) e fui professor, dirigente associativo, pai inovador (o único homem que levava a filha à Creche), desde 1980 (tirando os 3 anos dos Açores).
Esta sim, foi a campanha mais bela que alguma vez farei. Sem meios, mas com a equipa mais fraterna que alguma vez conheci, acreditando numa utopia : eleger um Vereador, perdido havia 2 mandatos. A campanha foi tão intensa que nela conheci o Amor da minha vida, a minha esposa deste meu segundo casamento, na altura minha simples "responsável política". Fui eleito pela CDU e desempatei, a favor do PS, uma Vereação minoritária. Tive , como Vereador com "meio tempo", pelouros (cultura, desporto, juventude, educação, acção social, movimento associativo, fundos comunitários, desenvolvimento económico). Criei equipamentos (Bibliteca, por ex.) , mas, sobretudo, estruturas de participação nas decisões.

Aderi ao PCP em 1994, com a ficha subscrita pela minha actual esposa e pelo saudoso Camarada Luís Sá.

Depois, veio o desgosto. Afinal, o PCP não admitia recem-divorciados como "cabeças de lista" nas autárquicas seguintes. Chocava, diziam-me, a mentalidade da terra; deu para perceber outros "discursos", afinal, conservadores...

Fui para Beja e conheci o PCP no Poder, no seu pior, o que me levou a sair do Partido em 2000.
Contudo, a justiça tem de ser feita : sempre gostei do PCP, em oposição, quando luta em situações de "não" poder.
Fui muito feliz no PCP, repito, pois nele fiz a minha "escola autárquica".
Não suporto são os "tiques" Estalinistas ainda existentes (eu só me aproximei após a queda do Muro...).
Quando saí do PCP, em Junho de 2000, publiquei, num jornal local de Beja, onde morava, um texto intitulado "Quando se deixa o PCP..."; aí referia que teria saudades de nunca mais cantar a "Internacional", ou o "Avante, Camaradas", mas que saía pelo lado "esquerdo". Recordava ainda, uma frase histórica de Álvaro Cunhal (que conheci fugazmente), no seu livro "Partido com paredes de vidro" : a luta pela Felicidade é a razão de ser da existência dos Comunistas.
Mais recentemente, nas Autárquicas de 2001, quando, pelo BE, me candidatava contra um "dinossauro" do PCP, em Beja, um jornalista local, questionava-me: "Você não milita no PCP, está contra eles nesta eleição, contudo, diz-se comunista porquê ?".
Singelamente, retomei essa frase e respondi que, para mim, um comunista é aquele que acredita na sociedade sem classes e que crê que a relação social estruturante da sociedade é o trabalho.
Continuo, a sentir-me Comunista, nesse sentido. Mas como o Comunismo é utopia, o "socialismo" é o possível...

Fui feliz no PCP. Devo-lhe esta "formação ideológica". E quero recordá-lo como um espaço onde sobretudo, fui isso.

1 comentário:

  1. Espero que seja desta vez que faças o "apanhado" de todas as tuas crónicas (tantas...) e a reunas num livro, porque quando escreves a comunidade fica mais rica.

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