Quem me conhece ficará admirado.
Teria eu 4 anos (em 1961)e queria ser toureiro. Isto fruto de uma "garraiada, então, em Mourão, terra do meu Pai. Vi os matadores (vá lá, da 3ª divisão tauromáquica de Espanha) nas festas do Concelho.
A minha Avó Juliana, mãe do meu Pai, fez-me, logo, nesse longínquo ano de 1961, duas capas (ou capotes) tauromáquicos, com o tamanho da minha idade. Muito pequenos (á medida do meu tamanho de então), contudo, muito vermelhos, prenunciando um qualquer futuro...
Dessas Festas de Mourão lembro-me de brincar, precisamente, ás Touradas, com o meu irmão mais velho e com um primo que hoje não sei quem era, no jardim de Mourão.
Ontem, o meu irmão referido, surpreendeu-me com a oferta da minha "capa tauromáquica" desse tempo, 50 anos depois; afinal não estava perdida, estava no vasto armazem de quem tudo guarda, como a minha Mãe fazia.
"À las 5 en puento de la tarde" de ontem, 18 de Julho, recebi, das mãos do meu "mais velho", de novo, a minha capa de aspirante a "matador", que julgava perdida...
Hoje não gosto, por ideologia e coerência, de touradas; mas confesso, que as vejo, sobretudo as que me chegam nos cafés onde a minha itinerância me leva, em canais espanhóis, com "matadores" a sério e touros devidamente maltratados. Sempre me lembro do "capote" que a minha Avó me fez aos meus 4 anos.
Vi, salvo erro, 4ª feira passada, uma das tais Touradas espanholas, na televisão, enquanto jantava, em Évora. Detive-me na poses teatrais dos matadores (bonitas e conseguidas), nas várias técnicas de lidar com o touro (estéticamente relevantes), na exacrável e bárbara acção dos "picadores". Lá me lembrei da minha "capa", de novo.
É bom voltar a ter esta "capa" de então e futuro e nunca concretizado "matador".
Porque não vou esconder esse "terrível erro" de infância : quando todos queriam ser coisas nobres como "bombeiros", eu queria, imagine-se, ser "toureiro/matador"...; hoje, continuo a querer ser aquilo que, por norma, não é correcto querer ser: cidadão com convicções e activo nas sua defesa, vivendo com a dignidade possível, "toureando" as desgraças do meu quotidiano...
Agora, com um "reforço" : o "capote" feito pela Avó Juliana.
Sabe-se lá porquê...
Tenho outro tesouro desses para dar à guarda dos teus filhos, para um dia o mostrarem aos teus netos...
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